Thursday, September 21, 2006

West vs. East

Para não entrarmos numa lógica dicotómica e maniqueísta, porque se o Papa deveria ter maior bom senso de perceber que qualquer afirmação serve de rastilho e posterior manipulação de massas, não há razão - tal como na questão dos cartoons - para tanto alarido.


«De pai libanês, mãe síria, tendo crescido no Líbano, mudando-se mais tarde para Paris, Samir Kassir (1960-2005), jornalista, historiador e professor de Ciências Políticas na Universidade Saint-Joseph, apresenta em 'Considerações sobre a desgraça árabe' (2004) sete breves capítulos sobre o povo árabe - o olhar deste povo relativamente a si próprio, o efeito do olhar alheio que desconfia, ou que condescende sem se ocultar - manifestando, claro, parte das suas convicções. Laico, empenhado na defesa da democracia árabe, não partilhando no entanto a perspectiva dos nacionalistas libaneses, e considerando-se ocidentalizado, Kassir, cuja obra foi escrita em francês, questiona a “desgraça árabe”. Existirá uma desgraça particular ao povo árabe? Quem é abrangido? De quando data? Que evolução teve para que se chegasse ao estado actual? Que evolução se espera? Entre o desespero, a vitimização e a impotência de que, segundo o autor, só os adeptos do islamismo radical não têm rasto aparente, que futuro poderá almejar o povo árabe? Que papel poderá desempenhar a religião islâmica na “desgraça”?
Não é fácil ser árabe nos nossos dias. Seja para onde for que nos voltemos, do Golfo ao Oceano, o quadro parece sombrio, e mais ainda se o compararmos com outras regiões do mundo, mesmo as mais desprovidas. Contudo, esta “desgraça” nem sempre foi. Para além da idade de ouro da civilização árabo-muçulmana, houve um tempo não muito distante em que os árabes, de novo actores da sua história, podiam projectar-se no futuro com optimismo.Como é que se chegou ao marasmo actual? Como é que se conseguiu fazer crer aos árabes que não têm outro futuro para além do que lhes destina um milenarismo mórbido? Como é que se pôde menosprezar uma cultura viva, para comungar no culto da desgraça e da morte?Sem pretender propor uma receita mágica para sair da desgraça, Samir Kassir mostra que é possível fazê-lo sublinhando que nada, e muito menos a sua herança cultural, deverá impedir os árabes de voltarem a ser sujeitos da sua própria história.»

Samir Kassir, in Considerações sobre a desgraça árabe (Edições Cotovia-2004)

0 Comments:

Post a Comment

<< Home