Thursday, November 10, 2005

Da Admiração

A dependência da admiração, isto é, o sermos admirados, parece prometer a «força» desejada. O homem quer ser admirado pela sua «força». E a esse estado do ser admirado chama-se amor, embora ele tenda mais a asfixiar o amor autêntico. A maior parte das vezes não é essa a intenção consciente, mas isso não altera em nada os resultados.

Se quisermos ser amados por conquitas e actos heróicos, cuja realização se deve ao medo, ao medo de sermos fracos na realidade, desprezamo-nos a nós próprios e, em suplemento, todos os que nos «amam» por isso. Assim exigimos mais e mais admiração porque só desse modo é que não temos de reparar nas nossas próprias dúvidas e nos sentimos amados. Mas o verdadeiro amor que todos nós desejamos escapa-nos por entre os dedos. E o mesmo acontece à intimidade, àquela proximidade que necessitamos mas que tememos porque exige sinceridade e autenticidade. Sendo cativos ad metirosidade da metafísica «masculina», alguns homens nunca conseguem encontrar-se, também, a si próprios num encontro íntimo. (...)

Como pode um homem (ou uma mulher) ser admirado por algo que, afinal de contas, se baseia em ele ou ela enganar-se a si próprio(a)? Enquanto haja por detrás disso um medo do desamparo que a pessoa não possa admitir a si própria, o admirador tem de escamotear o seu próprio desamparo. Assim ele perde-se a si próprio. O que resta talvez seja calculismo e manipulação. Mas isso são falsidades contrárias ao amor, por muito sucesso que tenhamos com elas!

Arno Gruen in A Traição do Eu

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