Monday, March 27, 2006

Geração 1000 euros - por Daniel Oliveira

«EM França, Villepin e Sarkozy continuam a sua disputa de virilidade. Depois de Dominique ter perdido por KO na melhor maneira de lidar com a «escumalha» dos arredores, passa à frente de Nicolas ao tentar pôr a parasitagem juvenil na ordem. A lei que levou mais de um milhão de franceses para a rua é simples: nos primeiros dois anos de vida profissional, o jovem trabalhador é relegado para a condição de escravo sem dono. Pode ser despedido a qualquer momento sem justa ou injusta causa.

Os jovens, vejam bem o «topete», foram para a rua. Os nossos «soixante-huitards» puseram-se logo a milhas. Nada a ver com os saudosos tempos do Maio de 68. Maoistas reconvertidos, que há quarenta anos andavam de livrinho vermelho na mão, explicam que, ao contrário da sua infinita generosidade, que os levava a querer mudar o mundo, esta gentinha egoísta só se quer safar. E têm razão. Esta geração não está enfadada do conforto e das boas maneiras. Está condenada. São melhores que os seus pais e viverão muito pior do que eles. Como explica um livrinho de dois jornalistas italianos (Geração 1000 euros), passaram anos a estudar e a preparar-se e não podem ambicionar a mais do que um emprego desqualificado e sem futuro e um ordenado eternamente miserável. A destruição do Estado Social começa por eles. É-lhes explicado que os «privilégios» dos pais e dos avós são chão que deu uvas. A própria ideia de que se tratam de privilégios é já um programa político. Outro vocábulo: «inevitável». Nada é política, tudo remete para um destino que ultrapassa as nossas vontades.

Os últimos sessenta anos de paz social e política na Europa foram garantidos pelos «privilégios» que agora se atiram borda fora. Sem eles, esta geração não terá nada a perder. E quando nos reencontrarmos com a frustração de quem não tem nada a perder, aí sim, sentiremos saudades do pacato Maio de 68.»

Daniel Oliveira (sim, o do Eixo do Mal) in Expresso

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