Da Julieta que não era Julieta e do Romeu que não era Romeu
«(Romeu) Apaixonara-se por Julieta como antes se apaixonara por outras, e como depois se apaixonaria ainda por objectos, coisas, acontecimentos.
Em Julieta foi diferente, as mulheres como os deuses: nunca se cansam do amor. Julieta caiu na armadilha e deixou-se ficar. Nela o amor não passou como um ataque mongol: mentimos no início. Mas ela foi atacada, sim; queimada, sim; massacrada; e saqueada. por fim, ele, Romeu, desapareceu. Amou-o depois à distância como se ama um duque, enquanto ele rapidamente a esqueceu em mulheres e outras batalhas.
(...)
Movido pelo ódio, embora não ainda totalmente dominado por ele, o imperador Conrado III, entrando na cidade de Baviera, consentiu em deixar fugir as mulheres. Apenas. Que elas saíssem da cidade a pé, foi a sua imposição; e que levassem só o que pudessem carregar com os braços. Tudo o que ficasse para trás seria arrasado pelo fogo (essa a sua vingança): inluindo os homens; incluindo Romeu.
(...)
Montaigne esqueceu-se (não terá visto): quando Romeu, o cruel duque da Baviera, se viu deixado para trás, abandonado por todas as mulheres que ao longo da vida abandonara, teve um instante em que de tudo se arrependeu como acontece a todos os que se vêem frente à morte. De imediato, no entanto, foi surpreendido pela terra, pelas mulheres. Uma mão feminina com rugas: era Julieta. Como nele, trinta anos nela haviam passado. Era agora velha, curvada, fraca. No entanto, carregou-o às costas. Corajosa. Ainda apaixonada. »
Gonçalo M. Tavares, Histórias Falsas (2005)
Saibamos que é ridículo e que não há forma de salvar do incêndio quem provoca fogos à velocidade e calma com que respira; saibamos viver sem esta necessidade quase arquétipa de os proteger, permanecendo intactas à espera de um dia, passadas décadas, em que ele se digne a arrepender-se do seu caminho e da desimportância (uau, já pareço o mia couto a inventar palavras) das conquistas operadas. E talvez aí deixemos de ser "mães" na relação para sermos "mulheres".
Em Julieta foi diferente, as mulheres como os deuses: nunca se cansam do amor. Julieta caiu na armadilha e deixou-se ficar. Nela o amor não passou como um ataque mongol: mentimos no início. Mas ela foi atacada, sim; queimada, sim; massacrada; e saqueada. por fim, ele, Romeu, desapareceu. Amou-o depois à distância como se ama um duque, enquanto ele rapidamente a esqueceu em mulheres e outras batalhas.
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Movido pelo ódio, embora não ainda totalmente dominado por ele, o imperador Conrado III, entrando na cidade de Baviera, consentiu em deixar fugir as mulheres. Apenas. Que elas saíssem da cidade a pé, foi a sua imposição; e que levassem só o que pudessem carregar com os braços. Tudo o que ficasse para trás seria arrasado pelo fogo (essa a sua vingança): inluindo os homens; incluindo Romeu.
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Montaigne esqueceu-se (não terá visto): quando Romeu, o cruel duque da Baviera, se viu deixado para trás, abandonado por todas as mulheres que ao longo da vida abandonara, teve um instante em que de tudo se arrependeu como acontece a todos os que se vêem frente à morte. De imediato, no entanto, foi surpreendido pela terra, pelas mulheres. Uma mão feminina com rugas: era Julieta. Como nele, trinta anos nela haviam passado. Era agora velha, curvada, fraca. No entanto, carregou-o às costas. Corajosa. Ainda apaixonada. »
Gonçalo M. Tavares, Histórias Falsas (2005)
Saibamos que é ridículo e que não há forma de salvar do incêndio quem provoca fogos à velocidade e calma com que respira; saibamos viver sem esta necessidade quase arquétipa de os proteger, permanecendo intactas à espera de um dia, passadas décadas, em que ele se digne a arrepender-se do seu caminho e da desimportância (uau, já pareço o mia couto a inventar palavras) das conquistas operadas. E talvez aí deixemos de ser "mães" na relação para sermos "mulheres".
1 Comments:
Gostei...bjs
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