Wednesday, March 29, 2006

Tatuada para a vida

Respirava com dificuldade. Torcia os dedos e caminhava lentamente. Ao atravessar uma rua, olhou para a esquerda. Não se deu ao trabalho de olhar para a direita. Atravessou.

Pensou que talvez fosse mais fácil não olhar. Seguir apenas e atravessar. Mais tarde, pela cabeça pesada que olhava o cimento, diluiu o olhar, naquele jeito semi-cerrado de quem acabou por ser atingido.

Todos os dias o mundo fazia questão de lhe mostrar que não é mulher que chegue, inteligente que chegue, bonita que chegue, competente que chegue, cidadã que chegue.

E todos os dias fazia questão de tentar mostrar ao mundo que, ainda assim, lutava. Não sabia bem porquê, mas continuava.

E quando tomava o caminho mais longo para a última casa, construções de sons distímicos invadem a alma. E, quando finalmente chega, recebe um envelope de um país longínquo com um souvenir sui generis.

Foi tatuada para a vida.

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