Guns n' Roses - Reencontro Existencial
Aqui expliquei a minha ligação existencial a esta coisa. Já dizem os the gift, bands can save your life. Passei quase metade da minha vida a ouvir Guns n' Roses. Quando era sinónimo de ter bom gosto, quando era sinal de ter mau gosto.
Até hoje, continuo a ver nas letras, nos sons, na postura, parte de mim, do que fui e do que sou. Todos os albuns, todas as músicas, todo o circo montado à volta deles, é uma espécie de segunda pele que mantenho contra tempos e marés. Dizia e mantenho: se a música dos Gn'R não tivesse letra, eu saberia o que queriam dizer na mesma (desculpem o pretensiosismo).
Não tem nada a ver com competência musical. Embora me acontecesse, frequentemente (como acontecia a quem me acompanhava), ter a sensação de ter escrito uma música fenomenal. E depois ter verificado, porra!, afinal eles já o tinham feito. Tem a ver com o facto de ser A banda sonora da minha vida.
Desenganem-se, não se trata de qualquer saudosismo. Não é voltar a uma era, embora sábado me tenham passado cenários, conversas, pedaços de curtas-metragens de pedaços existenciais dos quais quase não me lembrava.
Então: foi, efectivamente, um reencontro existencial. Axl tem, agora, 44 anos de idade. Já não pode, e tem essa consciência, correr de um lado extremo do palco para o outro lado e continuar a cantar como se nada fosse. Embora, pelo menos no sábado, se tenha tentado e com maus resultados. Axl Rose não está em boa nem em má forma. Está a desenvolver um formato que resultava antes e que agora não pode resultar. Vocalmente, e do ponto de vista da composição (veja-se "Madagascar"), continua com os seus dotes intactos. Psicoticamente brilhante. Um perfeccionismo exacerbado que leva a que o album Chinese Democracy esteja há 6 anos em estúdio...
No sábado não vi Guns n' Roses. Vi Axl Rose e o que resta deles, com substitutos que constituem promessas interessantes (Robin Fink e Michael Portes, por exemplo), mas pouco mais do que isso.
Vi um Axl mais calmo, mais tranquilo, parece que finalmente em paz. Poderia dizer domesticado, mas não creio. Acho que é um crescimento genuíno (confirmado por em NYC ter tocado novamente com Izzy Stradlin, depois de quase uma década de relações cortadas).
Mas de sábado ficou, sobretudo, o reencontro existencial. Uma sensação de ligação passado, presente e futuro. É que no dia 2 de Julho de 2006, eu tinha 16 anos e uma eternidade pela frente. Nos últimos 14 anos, tratei de vivenciar um trajecto, algumas vezes pautado pela auto-destruição, é verdade; corri riscos e enfrentei a vida de frente como quem se atira da ravina abaixo sem saber o que está lá em baixo. I started living my songs and my songs started killing me. Hoje sou uma pessoa evidentemente diferente (soa quase a redundância), mas de tudo o que a minha vida terá de especial, é também aos GN'Roses que o devo. Porque me abriram os olhos, fazendo-me ver a vida de outra forma.
A minha música de sempre dos GN'R não anda pela net(razão pela qual não a posso colocar no blog). Chama-se Coma, e foi a banda sonora do dia 5 de Novembro de 1992...Trata-se de uma música com 10 minutos e 13 segundos de duração, com uma letra muito longa (mas com a brutalidade contundente de um corte na aorta). E, se pudesse (quem sabe um dia posso?), tatuaria esta parte:
Ya live your life like it's a coma
So won't you tell me why we'd wanna?
With all the reasons you give it's
It's kinda hard to believe..
But who am I to tell you that
I've seen any reason why you should stay?
Maybe we'd be better off without you anyway!
You got a one way ticket
On your last chance ride
Gotta one way ticket
To your suicide
Gotta one way ticket
An there's no way out alive....
An all this crass communication that has left you in the cold
Isn't much for consolation when you feel so weak and old
But if home is where the heart is,
Then there's stories to be told
No, you don't need a doctor
No one else can heal your soul
Got your mind in submission
Got your life on the line
But nobody pulled the trigger
They just stepped aside...
They'd be down by the water while you
watch 'em waving goodbye
They'll be callin' in the morning
They'll be hangin' on the phone
They'll be waiting for an answer
When you know nobody's home
And when the bell's stopped ringing it was nobody's fault but your own...
There were always ample warnings
There were always subtle signs
And you would have seen it comin'
But we gave you too much time
And when you said that no one's listening,
Why'd your best friend drop a dime
Sometimes we get so tired of waiting
For a way to spend our time
And "It's so easy" to be social
"It's so easy" to be cool
Yeah it's easy to be hungry when you ain't got shit to lose
And I wish that I could help you
With what you hope to find
But I'm still out here waiting
Watching reruns of my life
When you reach the point of breaking
Know it's gonna take some time
To heal the broken memories
That another man would need just to... survive.
"Coma" - Use your Illusion I (1991)
6 Comments:
Huumm... nesses momentos passa-nos tanta coisa pela cabeça!! Espero que tenhas agarrado bem o momento. Acho que o fizeste.
Estiveste lá no dia dois de Julho de 1992?
Então viste os Guns... 1 vez na vida!
Aquilo de sábado foi uma farsa.
Mesmo assim, gostei do teu texto!
Saudações
Estive lá. Mesmooooo
Soundgarden + Faith no More + Gn'R
e vi Guns 1 vez na vida. Sábado, foi o q resta de Gn'R. Como diria o Del James "Shattered Illusions"...
Acho que não concordo quando dizes que a voz se mantém intacta, pelo menos do pedaço que vi do concerto, acho que estava um pouco fraca.
Tchi, em 92 só se pensava nos Guns, os Faith No More e os meus grandes Soundgarden eram pouco conhecidos cá.
Beijos.
Bonifaceo,
o axl apresentou algumas insuficiências vocais, mas apenas qd se tentou (erradamente, como já tinha dito) correr o palco...mas acredito q se ele reformular o fortmato (e qm viu o concerto, percebeu q ele o está a fazer), VAI CONTINUAR A BOMBAR :)
Faith no More e Soundgarden já eram grandes por cá nessa altura! Eu pelo menos já tinha as K7s...xiii, k7's!
Eu comecei só a ver a partir da parte em que ele tentou correr, e ele teve mesmo que parar logo senão saiam-lhe os pulmões pela boco, lol. Mas olha, que mesmo depois, até quando esteve ao piano notava-se uma voz com falhas, como se notou no resto do concerto, pelo menos foi o que me pareceu.
Eu falei isso dos FNM e dos Soundgarden, porque na altura era muito novo e percebia muito pouco de música e há tempos calhou apanhar um top+ na rtp-memória com uma entrevista desse concerto e era tudo Guns, nem se falou das bandas de abertura, tanto no programa como nos entrevistados antes e depois do concerto...
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