O fim do neoplasia existencial – Parte II
No post anterior, são visíveis as razões porque começa e porque acaba esta neoplasia existencial.
«Senti necessidade de projectar, derramar, inundar-me sem a tentação da protecção», foi assim que comecei a minha aventura de one-blog- girl há precisamente um ano. Quis pessoalizar, intencionalmente, sem me proteger. Assim foi. Hesitei por ter abusado do “eu” e do “tu”. Mas porque haveria de ser diferente no momento do fim?
O objectivo, como aqui se vê, é aprender a perder, encarar a dor de frente, torná-la não gloriosa, mas gratificante, morte como parte da vida que nos faz crescer, sair de nós próprios. Se não doesse, não seria perda; se não perdêssemos, nada teria valor. É a hipótese da perda que nos faz ser vigilantes. E este blog vem daí, da necessidade de extrapolar a dor, para que pudesse ser insignificante. Na esperança que, amplificada à sua maior potência, gere habituação e passe a ser gerível.
Um blog é mesmo uma estranha forma de vida. É um espaço essencialmente egocêntrico, por vezes excessivamente catártico. Era o que eu precisava, um espaço virtual, irreal e ilusório (e, ainda assim, tão pleno de essência), que me fizesse verter o que sentia que me inundava, não me sentindo apta para o derramar de outra forma.
O “meu blog” acabou por ser mantido, igualmente, por razões colaterais: amigos espalhados pelo mundo que, de repente, conseguem partilhar os meus dias mais de perto. Funcionou também como aquele pedaço de cortiça onde se colocam bilhetes de espectáculos, de metro, de comboio e avião; onde se colocam as fotografias do maior sorriso do mundo, de uma tarde carregada de nuvens e a ameaçar chuva, de umas escadas com folhas de plátano…que se partilham com quem não se conhece - para mim, uma novidade. E, por ter tido altas concentrações de mim própria, este blog permitiu que quem me-conhece-mas-não-me-conhece-as-entranhas, eventualmente tenha agora um manual de instruções. E, talvez assim, compreender. Dei voz a outros lados de mim que alguns não conhecem, por manifesta incompetência, pura e simples…just like vodka.
Antes de encerrar este blog, pedi a algumas pessoas que escrevessem um texto, ao jeito de quem vem a minha casa e traz uma garrafa de vinho para o jantar. Alguns conseguiram fazê-lo a tempo, outros nem por isso. Aos primeiros agradeço o privilégio; aos segundos agradeço o esforço e a intenção, mas não quero esperar mais.
Este blog nunca mais será mais eu do que o é agora. E por isso termina. Porque “o coração, se pudesse pensar, pararia." (Fernando Pessoa/Bernardo Soares “Livro do desassossego).
E, a todos que por aqui passaram, 4000 e tal visitas depois, do burgo de pedra cinzenta à solarenga varanda da nação, da Veneza portuguesa à terra onde não há bom vento nem bom casamento, da Londres como berço desejado aos Estados nunca Unidos, do nosso ex-país onde aprendi que viver é simples, ao ponto do planeta onde o Ocidente se mescla com o Oriente...
Até um dia…vemo-nos por aí!
«Senti necessidade de projectar, derramar, inundar-me sem a tentação da protecção», foi assim que comecei a minha aventura de one-blog- girl há precisamente um ano. Quis pessoalizar, intencionalmente, sem me proteger. Assim foi. Hesitei por ter abusado do “eu” e do “tu”. Mas porque haveria de ser diferente no momento do fim?
O objectivo, como aqui se vê, é aprender a perder, encarar a dor de frente, torná-la não gloriosa, mas gratificante, morte como parte da vida que nos faz crescer, sair de nós próprios. Se não doesse, não seria perda; se não perdêssemos, nada teria valor. É a hipótese da perda que nos faz ser vigilantes. E este blog vem daí, da necessidade de extrapolar a dor, para que pudesse ser insignificante. Na esperança que, amplificada à sua maior potência, gere habituação e passe a ser gerível.
Um blog é mesmo uma estranha forma de vida. É um espaço essencialmente egocêntrico, por vezes excessivamente catártico. Era o que eu precisava, um espaço virtual, irreal e ilusório (e, ainda assim, tão pleno de essência), que me fizesse verter o que sentia que me inundava, não me sentindo apta para o derramar de outra forma.
O “meu blog” acabou por ser mantido, igualmente, por razões colaterais: amigos espalhados pelo mundo que, de repente, conseguem partilhar os meus dias mais de perto. Funcionou também como aquele pedaço de cortiça onde se colocam bilhetes de espectáculos, de metro, de comboio e avião; onde se colocam as fotografias do maior sorriso do mundo, de uma tarde carregada de nuvens e a ameaçar chuva, de umas escadas com folhas de plátano…que se partilham com quem não se conhece - para mim, uma novidade. E, por ter tido altas concentrações de mim própria, este blog permitiu que quem me-conhece-mas-não-me-conhece-as-entranhas, eventualmente tenha agora um manual de instruções. E, talvez assim, compreender. Dei voz a outros lados de mim que alguns não conhecem, por manifesta incompetência, pura e simples…just like vodka.
Antes de encerrar este blog, pedi a algumas pessoas que escrevessem um texto, ao jeito de quem vem a minha casa e traz uma garrafa de vinho para o jantar. Alguns conseguiram fazê-lo a tempo, outros nem por isso. Aos primeiros agradeço o privilégio; aos segundos agradeço o esforço e a intenção, mas não quero esperar mais.
Este blog nunca mais será mais eu do que o é agora. E por isso termina. Porque “o coração, se pudesse pensar, pararia." (Fernando Pessoa/Bernardo Soares “Livro do desassossego).
E, a todos que por aqui passaram, 4000 e tal visitas depois, do burgo de pedra cinzenta à solarenga varanda da nação, da Veneza portuguesa à terra onde não há bom vento nem bom casamento, da Londres como berço desejado aos Estados nunca Unidos, do nosso ex-país onde aprendi que viver é simples, ao ponto do planeta onde o Ocidente se mescla com o Oriente...
Até um dia…vemo-nos por aí!
5 Comments:
Compreendo, e sei, que tudo tem um princípio e um fim. Muitas vezes somos nós quem o ditamos. Temos a nossa própria razão. É o nosso (teu) livre arbítrio. Tenho pena... Vai ficar um vazio... Mas por outro lado conforta saber que não é um "adeus" antes sim, um "até breve!"
bjx,
Jackie
Continuo a não querer, ainda que compreenda as tuas razões. Fica, assim, uma grande lacuna blogosférica. Até um dia...
lamento este final...não só por ter sido o primeiro blog que visitei e que me levou a criar o meu, mas porque foste uma das pessoas que mais me inspirou na tomada de decisão do curso de Psicologia (que termino agora este mês!)
Por isso, e pelos posts construtivos e de interesse, obrigado.
Espero mesmo ver-te por aí!!
abraço
PS. Lowprofile = Inferência Paradoxal = irmã da VoaVoa!
Obrigada por partilhares a parte 1, reflexo de uma bonita forma de amar. Quanto ao fim, também ele pode ser belo.
um arrepio, não há forma de aquecer os pés! já vais? fica um pouco... n podes? compreendo, aqui deixou de fazer sentido...
vou ter saudades deste espaço: tambem aprendi enquanto aprendeste a perder!
maybe someday i'll see you
before you make me cry
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