Friday, November 11, 2005

Filhos de ninguém


Vejo, nas caras das pessoas que olham a TV e lêem os jornais onde os incidentes em França (vamos utilizar uma expressão minimalista só para irmos mais directo ao assunto), um certo ar de espanto. Como se não fosse previsível. Como se os subúrbios das grandes cidades europeias não fossem barris de pólvora há mais de 10/15 anos. É o que dá fazer turismo no eixo Sena -Torre Eiffel ou Belgravia - Westminster.
Esse ar de espanto recorda-me um outro ar de espanto muito semelhante na forma (mas, evidentemente, diferente no conteúdo): 11/Set/2001. Desde quando "os árabes" (para enfatizar as generalizações abusivas da época) nos odeiam ao ponto de nos matarem em massa?

Não sabem? Pois é, às vezes o inconsciente colectivo tem memória curta. Dos nossos arquétipos, ficam as imagens dos cruzados como gente brava pela luta da cristandade. Mas, às portas de Jerusalém, no ano de 1090, foram os responsáveis pela primeira grande barbárie religiosa (sim, porque os cruzados, embora na sua maioria franceses e ingleses, termos actuais evidentemente, eram mandados pelo Papa Urbano II). Invadiram Jerusalém, mataram 20 mil muçulmanos. Aí reside, numa história de mais de 1000 anos, o problema israel-palestiniano. Todos acham que são donos da Terra Santa.

O que é que isto tem a ver com os incidentes em Paris (para ser minimalista novamente)? Vejo toda a gente com um ar de muito espanto. Não conseguem perceber as raízes históricas deste problema. Para mim, que até nem sou particularmente maniqueísta, a Europa está a ter o que merece. O irónico é que a Pátria com raízes mais republicanas e sólidas é a primeira a pagar o preço. Não quiseram, como qualquer governo europeu, fazer ABSOLUTAMENTE NADA em relação aos emigrantes de 2ª geração, nomeadamente magrebinos. Distantes das referências dos pais, mas num país que não é o deles. Atenção: não me venham dizer que faço parte daquela esquerda chic (pá, pronto, até faço se lá estiver o Jacinto Lucas Pires...) que acha que eles são uns coitadinhos e não têm culpa de nada. Não são, porque não souberam direccionar a sua raiva. Como ouvi há uns dias, os carros que eles queimam não são os das pessoas responsáveis por esta situação. São dos vizinhos de bairro que escolheram ter na educação e no trabalho uma forma de sair daqueles ghettos do inferno.

Paris e Bruxelas. A minha aposta seguinte? Zurique. E, sim, um dia, Lisboa. Mais próximo do que o que se pensa.

1 Comments:

Blogger Sol said...

Pois... E de seguida, o governo francês tenciona expulsar os emigrantes perturbadores (só os maiores de idade, note-se!). Mais uma vez, como resposta a um problema criam um outro, ainda maior!!

7:23 AM  

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