Thursday, March 02, 2006

"Estranged" (Life fessons from Els Encants) #1

O bom, entre outras coisas, da música (e da sua democratização com os gravadores de cd's, dvd's, da internet banda larga e dos "e-mules" desta vida) é a possibilidade de darmos música como souvenirs emocionais. Há anos que me dou a esta prática, como uma espécie de mecanismo compensatório pela densidade de que acusam sustentadamente.

E depois há aqueles que retribuem e nos mimam com estes presentes existenciais.

E a sincronicidade temporal com viagens faz com que sejam "a banda sonora daquela viagem". Foi o caso do MTV Unplugged de Lauryn Hill.


Nos intermináveis interludes, há o princípio de vida. Postura perante a vida. Gosto particularmente da parte que diz qualquer coisa como if they think you're crazy they don't mess with you. É-me vagamente familiar.

Há um espírito de não diria glorificação, mas contemplação do erro. Lauryn engana-se várias vezes, erra tons, em algumas partes a voz não parece muito diferente da minha às 7 da manhã. E assume-o. Princípio perante a vida, novamente. I'm a mess, diz ela outra vez. Ou I used to dress up for you all, I don't do that no more, I'm sorry.

E de repente, no flea market de Els Encants,

embalada no exercício sinistro da paragem de pensamento, vem isto

«I gotta find peace of mind, I gotta find peace of mind
He says it's impossible, but I know it's possible
He says there's no me without him, please help me forget about him
He takes all my energy, trapped in my memory
Constantly holding me, constantly holding me
(...)
All that I've known is gone, all I was building on
I don't wanna walk with you, how do I talk to you?
(...)
I gotta find peace of mind» (*)

E olhei à volta, perdida e imersa naquelas cores, no buzz das pessoas de um lado para outro, e resolvi brindar ao meu passado, às minhas tentativas, ensaios e erros; aos meus alicerces passados (e ainda presentes) porque não me deixaram tão mal assim; resolvi, sobretudo, brindar ao presente, ao hoje e ao por enquanto. E, como ouvi da boca de um puto de 10 anos que me deu uma lição de vida em directo: estou bem, estou vivo! (com a propriedade que só quem dá um pontapé na morte tem).

E ali, sentada no passeio - a luxury these days - encontrei um pequenino equilíbrio da tal paz de espírito. It comes and it goes. Paz de espírito essa, reflexo evidente da matriz das teorias pessoais: eternamente precárias, periclitantes e intrínseca e necessariamente recicláveis.

(*) Lauryn Hill - I gotta find peace of mind (MTV Unplugged)

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