Friday, January 20, 2006

Dos Tempos Adversos

«Sabemos tantas coisas e depois não sabemos responder às perguntas mais simples. Onde, porquê, para quê. É este o absurdo dos estranhos dias que vivemos. É dele que somos feitos, não tenhas medo. O que sentes agora? Confusão. Porque não te deitas no chão ao meu lado e paras de andar de um lado para o outro como se lago de invisível te perseguisse? O invisível és tu. És tu que te persegues, Simão. Porque não sossegas? Porque continuo confuso. Cada vez mais confuso. E tu, Sofia? Tudo em mim é desacordo. O que sou e o que faço, o que queria fazer e o que vou fazendo, as minhas próprias ambições se contradizem. Quero viver no céu e mergulhar no mar. No princípio foi difícil. Parecia-me violentamente puxada para um lado e para o outro, estilhaçada, sem poder decidir. Queria viver tudo, mau ou bom pouco importa. Queria experimentar tudo, tanto o que faz bem como o que faz . Aceitar que é assim, é aceitar o desacordo. »

Pedro Paixão, Os corações também se gastam (2005)

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