Like the deserts miss the rain

E a caracterização humana e funcional dos pequenos "bairros" nunca nos deixa a sensação de estar perdido. Lower Manhattan, a zona financeira, veste bem entre prédios altos com muitos escritórios e bancos. O Soho e Tribeca usam casas com ferros do final do século XIX e não escondem um gosto antigo pelas artes plásticas, tantas são as galerias que ali moram. Em South Seaport quase respiramos a memória da velha ilha colonial, veleiros a olhar para a Brooklyn Bridge, ao lado de um cais habitualmente inundado por turistas. O Greenwich Village respira uma placidez em casas georgianas de três andares que não se imaginam numa cidade onde, ruas acima, estar num 40.º andar não é surpresa. Ao lado, o East Village respira os ecos de muitas comunidades de imigrantes ali instaladas desde o século XIX, a mais famosa a chinesa (todavia, na ressaca do 11 de Setembro, muitas foram as famílias que dali se mudaram para outros bairros, levando consigo os seus restaurantes).

O Theatre District, em redor da Broadway, vive a luz e a cor do espectáculo, com paroxismo numa Times Square hoje com ares de Tóquio. Upper Manhattan alberga os colossos de mais de 70 andares. Depois o Central Park, verde a meio, museus e apartamentos chiques de ambos os lados. O Harlem e marcos centenários da cultura afro-americana, mais acima, depois da rua 110.Manhattan é movimento e diversidade. Da tranquilidade de uma sesta nos relvados não muito longe da Fountain of Bethesda, no coração do Central Park, ao olhar panorâmico no 102.º andar do Empire State Building, de um Pollock no MoMA a uma noite de música no Carnegie Hall, de um vinil de colecção numa das muitas lojas da Bleeker St. a uma tarde de patinagem no gelo frente ao Rockefeller Center, da elegância suprema do Gughenheim de Frank Lloyd Wright ao pimba chique da Trump Tower, de um café rápido num Starbucks a uma visita à cascata de gente na Grand Central, há vida. Se aos lugares juntarmos as gentes, rapidamente percebemos porque a canta Lou Reed, a filma Woody Allen, a escreve Paul Auster.»
Nuno Galopim in DN
0 Comments:
Post a Comment
<< Home