Wednesday, October 11, 2006

Medo. Muito Medo.

Tenho medo de viver num país em que uma pessoa como Paulo Portas chega a presidente de um partido. Menos mal, esse partido é o CDS-PP (teria consequências mais gravosas se fosse um partido da oligarquia PS-PSD).

Não tive alegria ao ver o PS eleito com maioria absoluta. Tal aconteceu apenas porque considero que, depois de 2 Governos deixados a meio (Guterres e Barroso, como eu vos compreendo!) e um Governo que nem sequer o chegou a ser (Santana Lopes, esse "ganda maluco"), era absolutamente essencial que Portugal tivesse um Governo que não precisasse de acordos à limiano para exercer a sua função.

Confesso, gosto de Sócrates. Confesso, gostei da boca do António Vitorino ao melhor estilo do "acabou a brincadeira". Não gostei, confesso, que António Vitorino não tivesse sido Ministro (embora tenha a noção de que não o foi porque não o quis). Mas gosto da máquina que Sócrates oleou, onde tudo está alerta 24 h por dia, dá a sensação de que ele está em controlo da coisa (algo que já não me lembro ter visto, ironia das ironias, depois de Cavaco Silva).

Mas mais do que a vitória do PS com a maioria absoluta, vibrei - até bati palmas - com o discurso neo-humilde e quase a roçar a lágrima no canto do olho do Presidente do CDS-PP. "Adeus", disse ele. Eu tremi, porque sabia que ele iria voltar um dia - mas mais uma vez, fiquei emocionada, por o ver a ir pela porta dos fundos. Emocionada pelo alívio.

Explico-vos porquê: o Paulinho das feiras é o símbolo do que de pior existe neste país. Um homem que constrói um semanário de referência com o Miguel Esteves Cardoso, numa perspectiva quase anárquica do sim-porque-sim de oposição inexistente no tempo do Cavaquismo, instrumentaliza esse mesmo jornal - a partir de certa altura e já sem o Miguel Esteves Cardoso - para o seu próprio projecto político. A missão do "Independente" deixou de sê-la, para passar a alimentar as ambições políticas de quem deu mais uma machadada, desta vez em Manuel Monteiro, para chegar a presidente do CDS-PP.

E quando lhe saiu a sorte grande (PSD eleito como Governo mas sem maioria absoluta e portanto obrigado a coligar-se), a minha vontade foi emigrar. Para mim, Paulo Portas é uma espécie de Le Pen mas sem o espalhafato e com muito maior sentido político. E tenho a reminiscência - culpa minha, decerto - de que os seus discursos são copiados a decalque dos de Goebbels. Mas é culpa minha, certamente.

Cada vez que Paulo Portas fala, tenho medo. Tenho medo pelos emigrantes, tenho medo pelas pessoas que trabalham por conta de outrém, tenho medo pelas mulheres, tenho medo pelos artistas, tenho medo dos que não são católicos cristãos praticantes, tenho medo. Não me sinto segura num país onde Paulo Portas tem um papel político-partidário.

Concertado ou não com Luis Nobre Guedes, a verdade é que Paulo Portas, como disse e bem o Prof. Marcelo Rebelo de Sousa, saiu do CDS por uma porta...giratória. Agora anda pelo país a falar às bases, segundo o próprio, para os "ajudar a pensar". Pronto, agora fiquei com medo de quem pensa pela própria cabeça. Ontem o soundbyte foi acerca dos emigrantes. O Paulo Portas tem medo dos emigrantes. Estou com ele, só com uma pequena diferença subtil: tenho medo pelos emigrantes. Não deve ser fácil ter um sonho, aplicá-lo a um país como Portugal onde os sonhos se esfumam depressa, e ainda por cima sujeitar-se a ter um fulano a falar na TV sobre o perigo que eles são. Pensem comigo: se eles forem legalizados, pagam impostos, certo?

Hoje Paulo Portas fala, no Porto, sobre o Islão. Vai ser bonito, vai.

Medo. Muito medo.

:The original OST for this post is "Rebel" - Lauryn Hill

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