«Transição no femininoPartindo da constatação de que (i) as mulheres subvalorizam o seu potencial para o sucesso educacional e vocacional (Betz, Heesacker & Shuttleworth, 1990) e que as jovens adultas apresentam menores aspirações nas suas carreiras do que os jovens adultos do sexo oposto (Betz, 1994), (ii) a vinculação e separação experenciada na infância pode influenciar o desenvolvimento vocacional e escolhas de carreira nas mulheres (Hazan & Shaver, 1990;O’Brien, 1996 em O’Brien e colaboradores, 2000) e (iii) a parca existência de estudos longitudinais neste domínio especifico, levou à exploração das relações entre vinculação e processo de separação psicológica com a eficácia do self vocacional (“career self-efficacy”) e aspirações profissionais (“career aspiration”) nas jovens adultas (O’Brien e colaboradores, 2000).
Partindo do
rationale que enfatiza o processo de crescimento de confiança na base segura e na segurança que esta lhe transmite para a exploração do mundo exterior (Ainsworth, 1989), condição essencial para o desenvolvimento vocacional (Ketterson & Blustein, 1997; Ryan, Solberg & Brown, 1996), apesar de vários autores e varias investigações apontarem no sentido da importância da vinculação no desenvolvimento de carreira das mulheres, permanecem relativamente desconhecidos os mecanismos específicos através dos quais isto acontece (O’Brien e colaboradores, 2000).
Em relação às jovens adultas e ao seu desenvolvimento vocacional, parece ser possível concluir o seguinte:
- as jovens universitárias aspiram a combinar carreira e familia (Betz, 1994; Fitzgerald, Fassinger & Betz, 1995);
- a confiança na prossecução de tarefas relacionadas com a carreira influencia a escolha de carreira e aspirações na mesma (Hackett & Betz, 1981);
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as jovens universitárias parecem baixar as suas expectativas ao longo do tempo, escolhendo trabalhos de menor prestigio, maior tradicionalismo e menos lucrativos, comparativamente com os homens (Betz, 1994);
- na adolescência, a vinculação à mãe parecer ter um efeito directo na percepção de auto-eficácia no domínio de carreira e esta na aspiração de carreira; mais tarde, à medida que as mulheres caminham para o mercado de trabalho, tornam-se mais próximas do pai, tendo a vinculação em relação a este, nesta altura, também um efeito directo na percepção de auto-eficácia e esta na aspiração da carreira (O’Brien e colaboradores, 2000);
- as mulheres que apresentam maiores níveis de vinculação ao pai tendem a escolher carreiras que fazem uso das suas capacidades (idem) – ao que parece, quanto mais próximas da colagem ao papel tradicional da mulher, mais próximas estão da valorização da família e onde o trabalho é uma espécie de mal necessário para a sobrevivência. Esta ideia parece ser consistente com a investigação de Betz (1994) e Cook (1993) em que se conclui que as mulheres parecem ter em maior consideração, nas tomadas de decisão vocacionais, a existência das necessidades dos outros significativos;
- se analisarmos jovens adultas, universitárias ou não, constatamos que não há diferenças significativas nas que frequentam o Ensino Superior no que diz respeito às expectativas em relação à carreira (O’Brien e colaboradores, 2000) – o que pode querer dizer que a formação universitária não está a passar a mensagem no alargamento de horizontes;
- apesar de todas as mudanças desenvolvimentais, não houve alterações na vinculação em relação à mãe ou ao pai durante cinco anos (idem),o que parece ser consistente com o postulado por Ainsworth (1989) e Bowlby (1973;1980);
- a separação psicológica não explica, por si só, sem a influência da vinculação, a percepção de auto-eficácia vocacional e a aspiração na carreira (O’Brien e colaboradores, 2000).»