Tuesday, January 31, 2006

Pardon my english: mas e se vocês fossem po c******?

O Conselho de Ética para as Ciências da Vida condena a destruição dos embriões congelados resultantes de tratamentos de fertilidade para a utilização de células estaminais. O conselho incentiva à investigação de células estaminais a partir de tecidos adultos, abortos espontâneos ou induzidos.

In tsf.pt

Isso, continuem. Continuem a utilizar dogmas para que as pessoas que amamos continuem a morrer. Pode ser que um dia possa ser alguém que vocês amam. Não nego a necessidade de regulamentação neste domínio, mas continuar a colocar reservas em relação a estudos que, por todo o mundo, já provoram a capacidade de regeneração de células através de introdução de células estaminais, é - no mínimo - IRRESPONSÁVEL.

Embirrações Pessoais #2 - "Doctor" Phil

É uma embirração de natureza corporativa, confesso.

A Psicologia nunca foi, não é e espero que nunca seja aquilo.

Um homem que se diz psicólogo não faz aqueles julgamentos sumários - aliás sumaríssimos - perante uma audiência de milhões de espectadores nos Estados Unidos e em todo o mundo. Uma Oprah pode, porque não está ali a representar classe alguma, muito menos uma classe que exige um determinado comportamento, mormente de carácter ético e deontológico.

Um psicólogo não critica uma pessoa por ter uma amante. Um psicólogo não faz uma parafernália de supostas publicações científicas baseadas em 10-passos-para-qualquer-coisa ou como-fazer-resultar-a-sua-relação-amorosa. E muito menos expõe a sua vida familiar, com a presença da sua mulher em todos os espectáculos.

Chamem-me ortodoxa, europeísta. Sou, de facto, europeísta convicta e orgulhosa da tradição europeia da Psicologia. E custa-me demasiado (e só os psicólogos conscientes saberão como custa) ser psicóloga; consumo-me demasiado com questões deontológicas e de intervenção, para depois vir um palhaço daqueles e deitar por terra todo o trabalho de dismistificação acerca do que é um psicólogo, o que faz, e o que são as suas obrigações (porque direitos, como sabemos, são poucos).

E portanto, até que a voz me doa, hei-de embirrar com o programita de tv.

Give Psychology Away #1 ("Demasiado ambicioso", disse ele)

«Transição no feminino

Partindo da constatação de que (i) as mulheres subvalorizam o seu potencial para o sucesso educacional e vocacional (Betz, Heesacker & Shuttleworth, 1990) e que as jovens adultas apresentam menores aspirações nas suas carreiras do que os jovens adultos do sexo oposto (Betz, 1994), (ii) a vinculação e separação experenciada na infância pode influenciar o desenvolvimento vocacional e escolhas de carreira nas mulheres (Hazan & Shaver, 1990;O’Brien, 1996 em O’Brien e colaboradores, 2000) e (iii) a parca existência de estudos longitudinais neste domínio especifico, levou à exploração das relações entre vinculação e processo de separação psicológica com a eficácia do self vocacional (“career self-efficacy”) e aspirações profissionais (“career aspiration”) nas jovens adultas (O’Brien e colaboradores, 2000).

Partindo do rationale que enfatiza o processo de crescimento de confiança na base segura e na segurança que esta lhe transmite para a exploração do mundo exterior (Ainsworth, 1989), condição essencial para o desenvolvimento vocacional (Ketterson & Blustein, 1997; Ryan, Solberg & Brown, 1996), apesar de vários autores e varias investigações apontarem no sentido da importância da vinculação no desenvolvimento de carreira das mulheres, permanecem relativamente desconhecidos os mecanismos específicos através dos quais isto acontece (O’Brien e colaboradores, 2000).

Em relação às jovens adultas e ao seu desenvolvimento vocacional, parece ser possível concluir o seguinte:

- as jovens universitárias aspiram a combinar carreira e familia (Betz, 1994; Fitzgerald, Fassinger & Betz, 1995);
- a confiança na prossecução de tarefas relacionadas com a carreira influencia a escolha de carreira e aspirações na mesma (Hackett & Betz, 1981);
- as jovens universitárias parecem baixar as suas expectativas ao longo do tempo, escolhendo trabalhos de menor prestigio, maior tradicionalismo e menos lucrativos, comparativamente com os homens (Betz, 1994);
- na adolescência, a vinculação à mãe parecer ter um efeito directo na percepção de auto-eficácia no domínio de carreira e esta na aspiração de carreira; mais tarde, à medida que as mulheres caminham para o mercado de trabalho, tornam-se mais próximas do pai, tendo a vinculação em relação a este, nesta altura, também um efeito directo na percepção de auto-eficácia e esta na aspiração da carreira (O’Brien e colaboradores, 2000);
- as mulheres que apresentam maiores níveis de vinculação ao pai tendem a escolher carreiras que fazem uso das suas capacidades (idem) – ao que parece, quanto mais próximas da colagem ao papel tradicional da mulher, mais próximas estão da valorização da família e onde o trabalho é uma espécie de mal necessário para a sobrevivência. Esta ideia parece ser consistente com a investigação de Betz (1994) e Cook (1993) em que se conclui que as mulheres parecem ter em maior consideração, nas tomadas de decisão vocacionais, a existência das necessidades dos outros significativos;
- se analisarmos jovens adultas, universitárias ou não, constatamos que não há diferenças significativas nas que frequentam o Ensino Superior no que diz respeito às expectativas em relação à carreira (O’Brien e colaboradores, 2000) – o que pode querer dizer que a formação universitária não está a passar a mensagem no alargamento de horizontes;
- apesar de todas as mudanças desenvolvimentais, não houve alterações na vinculação em relação à mãe ou ao pai durante cinco anos (idem),o que parece ser consistente com o postulado por Ainsworth (1989) e Bowlby (1973;1980);
- a separação psicológica não explica, por si só, sem a influência da vinculação, a percepção de auto-eficácia vocacional e a aspiração na carreira (O’Brien e colaboradores, 2000).»

Desperate Housewives - Missa #5



Bree Van De Kamp: Girls, you don't understand. This poor kid is scared out of his mind.

Gabrielle Solis: Oh, for God's sake, Bree. You're a woman. Manipulate him. That's what we do!

Desperate Housewives

Eu avisei que era Missa (#4)

Diálogo entre Karen e Jennifer Lopez num episódio passado em Las Vegas.

JLo- So karen... how's married life?
Karen-Well...it only lasted 20 minutes....
JLo- Oh is that short?!


(Will & Grace)

Monday, January 30, 2006

Fiona Bacana Recomenda


Paula Oliveira e Bernardo Moreira
"Lisboa que amanhece" (2005)

Roupagem jazzística de clássicos da música portuguesa. Brilhantes as versões de "O primeiro dia do resto da tua vida", "Depois do adeus" e "Lisboa que amanhece".

"Bom, mas bom."

Friday, January 27, 2006

Missa #2 - Saia Justa






Sou fã devota desde 2003, quando chegou a Portugal, ainda na primeira época e com o primeiro elenco. Reunia Mónica Waldvogel (jornalista, uma espécie de Margarida Pinto Correia lá do sítio) como dinamizadora de uma equipa de três mulheres: Rita Lee (precisa de apresentações?), Marisa Orth (actriz de teatro, cinema e televisão, a "Magda" do Sai de Baixo, ex-aluna de Psicologia na Universidade de São Paulo) e outra mulher que eu desconhecia à época, escritora e argumentista de "Os Normais", chamada Fernanda Young ("Efeito Urano" e "Aritmética" são livros que costumo citar por aqui).
Esse Saia Justa durou quase 2 anos. Fórmula simples: 4 mulheres que falam de tudo, desde as coisas tidas como mais superficiais como as tidas como mais profundas. O segredo não era o formato (até com tentativas imberbes aqui na terra lusa), mas sim a interacção das características das intervenientes: a solidez e sobriedade de Mónica contrapunham com a contundente e politicamente incorrecta Fernanda Young; o olhar simultaneamente clarividente e turvo de Marisa com a simplicidade aparente de Rita Lee (que dificilmente dispensava o tom escatológico - o que, por acaso, nunca apreciei particularmente).

Pois que tudo o que é bom um dia acaba e acho que as 3 convidadas tiveram o discernimento de sair de cena (porque às vezes é preciso, mesmo quando as coisas correm muito bem).

No final de 2005 surge a nova edição de Saia Justa. Mónica Waldvogel continua a liderar a fluência da conversa, mas com 3 novas caras: Luana Piovani (actriz), Betty Lago (ex-modelo, actriz) e Márcia Tiburi (filósofa).

Não tem a mesma intensidade que a 1ª edição, é um facto. Mas continua a ter o condão de me fazer olhar para as coisas que me rodeiam de uma outra perspectiva, mesmo que só por um minuto, e por muito pouco ortodoxa que seja essa grelha de leitura alternativa.

A última vez que vi (e já foi há algum tempo, porque os horários são para quem trabalha em casa) a pergunta ecoou na minha cabeça: que tipo de violência você pratica? (partindo de um depoimento de um psicanalista que advoga que todos nós praticamos algum tipo de violência).

E por isso, com mais ou menos regularidade, Saia Justa continua a ser uma missa para mim.

Thursday, January 26, 2006

Embirrações Pessoais #1 - Pessoas que forram gavetas

Pessoas que forram gavetas.
As coisas limpam-se, esfregam-se, pregam-se, aspiram-se (não necessariamente por esta ordem). Se estiverem muito más, deitam-se fora.
Só por um esmifrismo de altíssimo nível se forra uma gaveta. Já tenho visto gavetas forradas cujo papel é mais caro que o móvel inteiro.

Mas a minha embirração pessoal com as pessoas que forram gavetas é porque vejo nelas uma tendência incontornável em não aceitarem as pessoas que as rodeiam com o kit completo. Têm dificuldade em aceitar roncos que não sejam violinos, são capazes de as ensinarem a fazer vocalisos, porque não conseguem aceitar.

Em bom português: ou aceitam a gaveta podre (se tem assimmmm tanto valor emocional) ou deitam fora. Tá?!

Actually, I can't wait

Blog do Dia

Aqui. O meu preferido é "Apenas mais um colinho/APAF na frente".

Até os inergúmenos têm o seu dia de glória

Energúmenos como globalmente tendem a ser essa gente das claques (cujo mérito único - mas assinalável - é fazerem o que eu não faço, que é percorrer o país de lés a lés por 90 minutos de bola, faço frio, gelo ou sol arrasador), os Super Dragões tiverem, ontem, uma sinapse cujo resultado é tão-somente BRILHANTE! (e não estou a usar de ironia...).

A propósito da guerra de donas de casa (pera lá...isto é um insulto às donas de casa!) entre Pinto da Costa e a galinha Al-Bheiga, os SD foram chamados à baila por - tal como eu - não concordarem com a política comissionista da actual FC Porto, SAD.

E vai daí emitiram um comunicado no seu site oficial que só me deu vontade de bater palmas de pé (até porque nunca pensei que eles conseguissem juntar mais que 3 palavras para além do "prontos", "portantos" e "****-se, c***** po f*** da p***!"). E por ser tão bem feito, partilho convosco:

Tendo o nome da Nossa Claque sido mencionada pelo Sr. José, conhecido portista a soldo de um clube da Capital, de uma forma pouco clara nos seus intentos e longe do contexto dos tempos da Leninha, os Super Dragões, grupo de adeptos de apoio incondicional ao FCPorto, esclarecem que como é apanágio do Nosso Grande Clube, as críticas e diferenças de opinião são discutidas em sede própria, vistas como essenciais para um bom funcionamento democrático da agremiação e sempre por quem ao seu universo pertence e não por quem a ele quer pertencer.Teremos todo o gosto de acolher o Sr. José na Nossa grande Claque, assim que se desvincular do seu emprego e regularizar a sua situação fiscal, poderá então seguir os ideiais que o norteiam desde infância.

Clap, Clap, Clap.

Parece-me que o meu caminho é por aqui

Pelo menos hoje faz sentido. Amanhã logo se verá.

«Vou viver
Até quando eu não sei
Que me importa o que serei
Quero é viver...»

António Variações - "Quero é viver" (Humanos)

Tuesday, January 24, 2006

Os mistérios da fé


«O medo faz-nos companhia. Só gosto do que é perigoso. Só o sofrimento nos faz crescer. Só um sofrimento maior pode vencer o outro. Quando a alma dói, é preciso urgentemente encontrar outra que nos faça ser ainda mais. Para depois voltar à superfície das coisas, ao desequilibrado perigo da contradição. Simão, isto é a minha religião, só minha, não sei de onde vem, da vida certamente. Ou então ficção minha. Já me aconteceu curar um desgosto de amor através de um desgosto maior, para depois voltar a amar. A existência não é um jogo, é uma estratégia.»

Pedro Paixão, Os Corações também se gastam.

A idade torna-nos cada vez mais relativistas e, de alguma forma, mais tolerantes. Ele disse-me que me poderia receber em qualquer formato, confissão ou fora dela. Preferi falar com um padre como pessoa (tolerância sim, mas nem tanto).

Não sei se foi do padre que escolhi. Não sei se foi talento da parte dele em perceber que ortodoxia e dogmatismo não iriam de encontro às minhas expectativas e não ajudariam um único milímetro, apenas avivar ressabiamentos antigos.

Não sabia como começar. Comecei por perguntar-lhe para que serve uma mulher. Ele riu-se, com um gargalhada que me era familiar. Quando esperava o débito da história de adão e eva, ou a fundamental presença do feminino na liturgia católica, ele responde: para o mesmo que o homem - para ser feliz.

Mas isso não é paganismo? O meu deus vê-se num sorriso partilhado, em momentos de festa ou num café polvilhado sorvido com emoção, nas trocas de afectos.

Tu achas que isso é paganismo? Não creio que o meu Deus seja muito diferente do teu.

Mas não é isso que me incomoda, senhor padre.

Quero saber porquês. Quero saber o que fazer com a minha vida, o porquê deste compasso de espera que me soa a eternidade, o que fazer com esta cratera de vazio que me invadiu. Quero saber para que serve a minha vida, se o tentar fazer a diferença na vida dos outros pode servir como propósito de vida e não alimentar essa mesma cratera. E se é possível que este vazio me seja imposto por um desígnio de nível superior, uma espécie de custo para um benefício maior. Se este caminho é desenhado por mim.

Queres respostas que ninguém te pode dar. Só tu. O caminho faz-se andando, e não podes queimar etapas. Tu vês a vida como um fim em si mesmo. Eu vejo a vida como um meio para atingir outro fim, um fim maior.

Ok, senhor padre. Isso também eu sei. Mas sabe aquela história do filme, em que só vemos fragmentos e por isso não percebemos o que se está a passar?

Não. Explica-me tu.

E quando ia começar a falar de Schoppenhaur, parei.

Percebeste, agora?

Só no fim vais perceber. Pode ser melhor do que pensas, pode ser pior do que pensas. Igual não será certamente. Podes pensar no porquê, claro que podes. Mas o caminho faz-se também de paragens, compassos de espera. Estás parada porque estás numa encruzilhada. Podes é não estar a vê-la, mas é só mais uma. Ninguém tem caminhos iguais, embora alguns caminhos te pareçam mais iguais do que outros. Podes ir buscar esperança onde quiseres. Eu vou buscá-la ao Evangelho, tu vais buscá-la onde quiseres. Mas caminha.

Eu só precisava que ele me dissesse que isto acontece por alguma razão. Não o disse, mas cheguei lá por mim. Há uma razão, eu só não a estou a ver agora. Um dia irei perceber, num dia em que os olhos turvados, ecoados pelo medo tão conhecido, já não me impeçam de entender.

Porque não morrerei sozinha. Mesmo sem futuro partilhado, "comigo caminham todos os mortos que amei, todos os amigos que se afastaram, todos os dias felizes que se apagaram. Não perdi nada, apenas a ilusão de que tudo podia ser meu para sempre." (Miguel Sousa Tavares )

Poema improvável

A quietude pesa nas pálpebras,
quero dormir.
O silêncio que vem da sua boca me acalma.
Não anseio nada. Não aguardo.

Estou salva, rija, fixa, petrificada.
Vendo as nuvens sem para cima olhar.
Não, não era isso que eu queria.

Fernanda Young, Aritmética.

Monday, January 23, 2006

Do depois do depois do adeus (Um vazio cheio de nada)

Há alturas em que não consigo olhar-te. Cada vez que te materializas no meu dia, não sei o que te fazer. É verdade, não sei ter nem tenho saudades tuas. Habituei-me a usar-te como refúgio para a construção de castelos de cartas, e cada vez que estás presente, não sei olhar-te, falar-te, tomar-te. No espelho em que nos olhamos, será que nos vemos? Usei-te, portanto, e não me custa admiti-lo.
Preciso, então, de saber largar-te, dar-te à vida, e aos outros.
Mas então, se o desprendimento é assim tão claro e contundente, porque me custa(s)?

Dois minutos e cinquenta e seis segundos d(n)o teu poema. Acho que tenho um vazio que não passa. As horas passam, os dias passam, mas a sensação de um vazio cheio de nada continua. Como se tivesses um espaço em mim, um vazio colmatado com o que há de mais de ti, mais dentro de mim do que gostaria admitir, mas um vazio cheio…de nada.

Porque as horas passam, os dias passam, mas o vazio está lá.

Às vezes questiono-me se esse vazio é perceptível à vista desarmada. Mas é mera curiosidade, porque pouco me importa.

Porque um vazio, ainda que cheio de nada, é - ainda assim - um vazio.

Das cicatrizes e das queimaduras

Adoro perder-me pelo Porto.
Uma das razões por que tal acontece é porque, sozinha, tendo a ver mais claramente as coisas (a eterna desculpa dos evitantes).

O que descobri ontem é que tenho mais cicatrizes que queimaduras. O que é, de alguma forma, paradoxal e inconsistente com aquilo que fui escolhendo para a minha vida.

A minha directora de turma do 9º ano (aliás, do 5º ao 9º, mas é mais uma segunda mãe para quase todos...), num bilhete de despedida - entre outras recomendações e observações que se mantêm actuais até hoje - escreveu-me:

«Lembra-te que a vida também pode ser vivida sem que tenhas que derreter as tuas asas , de tanto quereres viver alto e perto do sol.»

Das cicatrizes, lembramo-nos quando olhamos para elas, sinais de que não passamos por estas dilacerações impunemente. O que mais me deixou cicatrizes foi dar murros em ponta de faca. Insisto, respiro fundo e volto a tentar. Mesmo que isso implique mais um golpe. Olho e deixo o sangue correr.

Das queimaduras, pouco sei dizer, a não ser que as detecto como sinais das vezes em que quis ser mais vida do que os limites da minha própria existência. Porque pensava que estes não existiam. Ou, pelo menos, criei essa ilusão.

Professora, talvez seja falta de coragem para mudar. Ou, então, pura burrice. Mas gosto da minha queimadura. Mais: diria que, mesmo depois de toda a porrada que apanhei por ser assim, preferia ter 1000 queimaduras e nunca uma cicatriz.

Friday, January 20, 2006

Já que é para entrar numa de humor

Depois da sempre proveitosa troca de argumentos com a lux dos Estrogen Diaries, e com os posts dela que se seguiram, achei por bem entrar na onda do humor e por isso aqui vai: http://www.stripgenerator.com/view.php?id=73956.

Luto (crónico) dos imagos parentais

Forgotten things remembered
The tigers eat their young
The body stayed but inside the head
The mind was on the run


A conspiracy of silence
The only way out of pain
Is turn around, run through it man
Too wet to come in from the rain,
Tell them...


I know they were doing it to you
But don't try doing it to me

Let me show you, how I love you
It's our secret, you and me
But keep it in the family tree
The secret of the family tree

Sing a one note song of rage
Live and die within your heart
So beware in the shadows
Your family tree waits in the dark

Megadeth, Family Tree (Youthanasia, 1995)

Dos Tempos Adversos

«Sabemos tantas coisas e depois não sabemos responder às perguntas mais simples. Onde, porquê, para quê. É este o absurdo dos estranhos dias que vivemos. É dele que somos feitos, não tenhas medo. O que sentes agora? Confusão. Porque não te deitas no chão ao meu lado e paras de andar de um lado para o outro como se lago de invisível te perseguisse? O invisível és tu. És tu que te persegues, Simão. Porque não sossegas? Porque continuo confuso. Cada vez mais confuso. E tu, Sofia? Tudo em mim é desacordo. O que sou e o que faço, o que queria fazer e o que vou fazendo, as minhas próprias ambições se contradizem. Quero viver no céu e mergulhar no mar. No princípio foi difícil. Parecia-me violentamente puxada para um lado e para o outro, estilhaçada, sem poder decidir. Queria viver tudo, mau ou bom pouco importa. Queria experimentar tudo, tanto o que faz bem como o que faz . Aceitar que é assim, é aceitar o desacordo. »

Pedro Paixão, Os corações também se gastam (2005)

Wednesday, January 18, 2006

No teu poema

«NO TEU POEMA
EXISTE UM VERSO EM BRANCO E SEM MEDIDA
UM CORPO QUE RESPIRA, UM CÉU ABERTO
JANELA DEBRUÇADA PARA A VIDA

NO TEU POEMA EXISTE A DOR CALADA LÁ NO FUNDO
O PASSO DA CORAGEM EM CASA ESCURA
E, ABERTA, UMA VARANDA PARA O MUNDO.

EXISTE A NOITE
O RISO E A VOZ REFEITA À LUZ DO DIA
A FESTA DA SENHORA DA AGONIA
E O CANSAÇO
DO CORPO QUE ADORMECE EM CAMA FRIA.

EXISTE UM RIO
A SINA DE QUEM NASCE FRACO OU FORTE
O RISCO, A RAIVA E A LUTA DE QUEM CAI
OU QUE RESISTE
QUE VENCE OU ADORMECE ANTES DA MORTE.

NO TEU POEMA
EXISTE O GRITO E O ECO DA METRALHA
A DOR QUE SEI DE COR MAS NÃO RECITO
E OS SONOS INQUIETOS DE QUEM FALHA.

NO TEU POEMA
EXISTE A ESPERANÇA ACESA ATRÁS DO MURO
EXISTE TUDO O MAIS QUE AINDA ME ESCAPA
E UM VERSO EM BRANCO À ESPERA DO FUTURO. »


Carlos do Carmo - "No teu poema"

Ainda Sophia

«Cantaremos o desencontro:
O limiar e o linear perdidos

Cantaremos o desencontro:
a vida errada num país errado
Novos ratos mostram a avidez antiga»

Sophia de Mello Breynner Andresen - O Nome das Coisas

Tuesday, January 17, 2006

Fast-forward/Fast-food #2

«- Em que é que estás a pensar?
- Se estarão 3 dias seguidos sem chover para ver se lavo as minhas sapatilhas. »

E, depois disto, ficou clara a necessidade de carregar no fast-forward.

The only thing you lack..is me #3



Ethan Hawke.

Acho que já deu para perceber a tendência para os copinhos de leite. E este ainda por cima tem aquela aura de menino de colégio ("Dead Poets' Society") que vira lobo-mau ("Taking Lives", "Great Expectations", "Gattaca", "Waking Life" ...). E escreve...

Monday, January 16, 2006

Fast-Forward/Fast Food


De um amor morto fica
um pesado tempo quotidiano
onde os gestos se esbarram
ao longo do ano
De um amor morto não fica
nenhuma memória
o passado se rende
o presente o devora
e os navios do tempo
agudos e lentos
o levam embora
Pois um amor morto não deixa
em nós seu retrato
de infinita demora
é apenas um facto
que a eternidade ignora
Sophia Mello Breyner Andresen De um amor Morto
Geografia

Thursday, January 12, 2006

Avesso do Avesso do Avesso


I've got hate
running through my veins
and my blood runs like a venom of a poisonous snake
Emptiness, my old friend
keep me company as I haunt down and kill my enemies
'cause there must be someone to blame
for the way I've been feeling

Rocky Votolato, Every Red Cent

Wednesday, January 11, 2006

Da guerra civil e das excepções

Afinal, anos e anos de teorias dramáticas sobre o civismo nas estradas portuguesas, dos milhares de portugueses esfacelados para a vida e perdidos para a morte em acidentes de viação, da afirmação contundente de que a forma como os portugueses conduzem é uma canalização das suas próprias frustações (o que é o tunning senão isto?), e a primeira vez que me batem no carro sou maravilhada com uma excepção.

Choque com 3 carros. O cavalheiro (e esta expressão não é um eufemismo!) sai do carro e lança logo um sonoro "bom dia!", seguido de um "peço imensa desculpa". Propôs que encostássemos o carro uns metros mais à frente para não impedir a circulação, logo aí um sinal de civismo interessante. Mas ainda assim, fui decorando pelo retrovisor a matrícula, não fosse aquilo um expediente para se pôr a andar.

Não fugiu. Fez uma curta chamada no telemóvel e propôs que comunicássemos à companhia de seguros. E declaração amigável? Não há. "Olhe, eu trabalho aqui perto, quer vir comigo? A minha empresa tem uma frota, de certeza que há declarações lá". E fomos. Entramos. E preenchemos tudo, aliás, até a minha parte dos dados foi preenchida por eles. Mandava piadas, ria-se com a sua própria fotografia na carta.

E, no fim de tudo, ainda se vira para mim e diz: "Qual é a sua companhia de seguros? Ah...se precisar de alguma coisa de lá, diga, que eu conheço lá gente". "E, mais uma vez, desculpe a maçada".

E pronto. Não foi preciso drama, não foi preciso "então você não viu?!!!", não foi preciso chamar a polícia (não fosse alguém estar com os copos às 9:20 da manhã), não foram precisos aqueles subterfúgios para a não admissão de culpa.

Afinal há cavalheiros. E, mais incrível ainda, há cavalheiros nas estradas.

Tuesday, January 10, 2006

Do meta-medo (Do casulo)

Volta e fecha-se. Não há que chegue para si, quanto mais para os outros. Responde por monossílabos, não por falta de educação, mas porque as palavras parecem longínquas, inacessíveis, distantes. E por isso volta-se para si e fecha-se, despojando-se de artefactos.

Há alturas em que paralisa de medo. Algo que vem de dentro e faz querer fechar os olhos.

Mas, descobre, quando a água corre forte, pressionante, quente no duche, que é mais do que medo:

É ter medo do medo.
É ter medo de ter medo de viver.
É medo de ter medo de morrer.
É medo de ter medo de andar de olhos bem abertos, cabeça levantada e pescoço erguido.
Medo do medo de olhar os outros de frente.

Ter medo do medo é ainda mais incapacitante do que o medo original. Porque reflecte consciência e responsabilidade do que é preciso saber para se viver: viver e aceitar a parte do medo e, ainda assim, andar em frente.

Viver e não ter medo do medo de (não) viver.

Afinal, não há almoços grátis (O motto de hoje #2)

Ele pensava que seria simples. Afinal, as coisas complicadas nunca compensaram os custos de manipulação, muito menos o jogo subserviente das intenções ocultas vs. explicitude do discurso. Era uma troca simples, de pureza torta, mas, ainda assim, de pureza. Sem compromisso, para além do horizonte de uma existência partilhada num dado espaço e dado tempo. Fora de uma determinada realidade, cria-se outra, pincelada a cores novas numa paleta emocional, talvez antes experimentada, isso pouco interessa.

Ela pensava que seria complicado. Sempre preocupada com a ponderação de custos, de quem foi batida pelas marcas de uma vida baseada em instintos e impulsos. O discurso dele atraía-a, o vício da beleza e da vida. Nas suas palavras encontrava uma tranquilidade displicente que buscava ocasionalmente quando a vida de um e outro o permitia. Sempre escondidos, porque não conheciam a vida real de cada um. Encontraram-se, pela primeira vez, no ocaso do acaso. Também para ela, era inevitável a criação de uma outra realidade, com novos traços e desenhos de novos esquissos. Permitia-lhe ser outra persona, ou melhor, outros lados menos explorados da mesma persona.

E eis que julgavam-se impunes, quando os sentimentos tomaram o lugar dos sentidos. E pensavam-se imutáveis na presença do outro, só pela vivência exclusiva, segmentada e compartimentada da existência de um no outro.

Mas isto de jogar pela equipa dos displicentes emocionais tem o que se lhe diga, e talvez já não tenham estofo para jogar partidas que apelam à estanquicidade. É que, ao que parece, afinal, já não há almoços grátis. As consequências existem e já não se deslavam. Ficam.

«If you’ve been hiding from love
I can understand where you’re coming from

If you’ve suffered enough
I can understand what you’re thinking of
I can see the pain that you’re frightened of

And I’m only here
To bring you free love
Let’s make it clear
That this is free love
No hidden catch
No strings attached
Just free love

I've been running like you
Now you understand why
I’m running scared

I’ve been searching for truth
And I haven’t been getting anywhere

And I’m only here
To bring you free love
Let’s make it clear
That this is free love
No hidden catch
No strings attached
Just free love

We’ve been running from love
And we don’t know what we’re doing here
We’re only here
Sharing our free love...»

Depeche Mode - Free Love (Exciter)

Monday, January 09, 2006

«A paixão é como um Deus...»


A paixão é como um deus
que quando quer me toma todo o pensamento
dirige os meus movimentos,
meu passo eterno,
meu pulso é desse todo poderoso sentimento

Maria Rita, Mantra in Segundo

O cenário escuro e as velas acesas chamavam pelo acórdeão e pela percussão. E a voz dela ecoava. Primeiro em cd (para ir entretendo as hostes), depois ao vivo. E entra "Muito (para mim é tão) pouco", vestido até aos pés e descalça. Passo a passo, debita o drama

não sei mais do que sou capaz
gritando para não ficar rouca
em guerra gritando por paz
muito para mim é tão pouco
e pouco eu não quero mais

do paradoxo, do preto que é branco e vice versa.

Só por isto, já o concerto teria valido a pena (passados os primeiros 30 segundos de feedback do microfone). Maria Rita, acompanhada divinamente, ainda é tímida. É como a malta que bebe à noite: só está à vontade lá para a 3ª ou 4ª bebida, no caso, 3ª ou 4ª música. E foi enternecedor vê-la sem palavras (fez-me lembrar qualquer coisa...) , rematando, algumas hesitações vocais depois, com um "vocês gostam de ver as pessoas se esgolando".

Maria Rita cresceu. Está mais interventiva. Mais à vontade e, quase paradoxalmente, mais tranquila.

Poderia falar de muitas outras coisas. Poderia dizer que continua o espectro Ellis a pairar no ar, mas isso de nada importa, porque não é necessariamente mau. Poderia dizer que ela não compôs uma única música em dois albums, mas isso nada importa, porque se fez reunir do mais competente que existe.

O que interessa é que um espectáculo de Maria Rita é mais do que um concerto. Acerto vocal muitos têm, dramatismo na interpretação alguns conseguem ("Santa Chuva" faz uma ligação gestos/som/imagem próxima da edição de vídeo!), mas a mistura de ambos é que é difícil de encontrar. E, quando assim é, não é um mero espectáculo: é um belo naco de existência. Naco esse que eu degluti avida e tranquilamente, naquela mistura de jazz e mpb que só está ao alcance dos predestinados.

E eu deliciei-me com a possibilidade de poder partilhar o festim. E, para dizer, no fim: é bom estar vivo só para poder presenciar...

Friday, January 06, 2006

O motto de hoje


No hidden catch
No strings attached
Just free love

Depeche Mode "Free Love"

Fiona's Box #4

Tori Amos - MTV Unplugged

«To me anger is only one small splash on the pallet. If your'e looking at when you're writing and emotions are a part of the pallet, which translates into tone, rhythm, voicing that we use in this stuff wether it's human...it's a part of my pallet.»

Thursday, January 05, 2006

A Paixão de Pedro volta a atacar


"Os corações também se gastam". Ainda só folheando ansiosamente, vejo isto:

«P.: Quais foram as suas férias inesquecíveis?

R.: Quando a minha mãe me deixava na aldeia em casa dos meus avós e eu chorava todos os dias desejando a sua morte para que não pudesse voltar a abandonar-me.»

Be afraid, be very afraid


Da próxima vez vou ter mais cuidado quando abrir a boca para falar da função pública.
Eles são poderosos, já sabia; mas excels0s ao nível do vodoo, não fazia ideia...

Fiona's Box #3


Quando fui a Nova York, estive a um instante de decisão de ver "Evita" na Broadway. Não vi. Acabei por ver "Miss Saigon", com um ou outro bocejo, só cortado pela magnífica máquina de produção que - justiça seja feita - os americanos sabem fazer como ninguém (mesmo os "musicais" britânicos são mais Teatro e menos espectáculo).

Menos de um ano depois, surge "Evita" - o filme. Vi o nome mágico de Oliver Stone na ficha técnica antes da estreia e, mesmo algo receosa, vi o filme no cinema. O meu fascínio por essa figura, que conflui de forma dramática justiça social e podridão, já vinha da altura em que o meu pai me passou para as mãos a auto-biografia de "Evita". Essa auto-biografia é tão somente um delírio político, de uma mulher que se colocou ao serviço de um homem fraco e situacionista como Perón, e que foi escrito como manifesto do que ela chama de Justicialismo Social.

Naquelas entrevistazinhas ridículas que se fazem nas entrevistas às figuras mais-ou-menos-públicas, há sempre aquela perguntinha "que figura histórica gostaria de conhecer?". No meu caso, nem Che, nem Fontes Pereira de Melo nem Freud. Eu gostaria mesmo era de conhecer Eva Péron.

Porque "Evita" é um paradoxo estrutural: uma espécie de santa, dizem uns, uma puta, dizem outros. Defendia os interesses dos "descamisados", mas lutou pelo poder, e respectivas regalias, com a mesma energia com que perseguia os opositores do seu regime. Nunca defendeu a liberdade de expressão, porque silenciou rádios e jornais...encerrando-os. Tinha um ódio visceral à classe média. Criou a Fundação Eva Perón, dava comida, casa, dentes a quem não os tinha, educação, saúde; mas com um show off que soa a propaganda de regime. E as empresas que não queriam contribuir com fundos para a dita Fundação, eram encerradas.

Mas o mais paradoxal da vida desta mulher foi a forma como negou a sua doença. Um delírio de poder de tal forma grande que acreditava ultrapassar o seu cancro com a missão a que se tinha destinado. Achou que não se poderia afastar no momento em que os militares ansiavam pela altura exacta para assaltar a Casa Rosada ("São Bento" lá do sítio).

Depois da auto-biografia, li mais duas biografias dela. E, inconsistências históricas à parte (a que lutava pela "paz, saúde e educação" e defendia a religiosidade extrema, deixou inúmeros quartos de roupas Dior, jóias de valor incalculável e quase 2000 pares de sapatos), confirmo a minha ideia inicial: é uma figura histórica que encerra tudo ao extremo, o que há de bom e de mau.

E continuo a sonhar com o dia em que possa viajar a Buenos Aires.

Tuesday, January 03, 2006

The only thing you lack is...me! #2



River Phoenix.

Pronto, descontando que agora talvez não lhe falte coisa alguma, é, ainda assim, my kind of guy.

Além disso, um brilhante actor: "A Caminho de Idaho" (Gus Van Sant), e "Silent Tongue" (Sam Shepard) provam isso mesmo. E "Dark Blood" (George Sluizer) ficou a meio...

Missa #2 - NipTuck

Devo ter uma atracção estranha pelo decadente. Quando esse decadente envolve estética, uma dose excessiva de brutalidade na forma como se postula a transformação do corpo humano em direcção a um ideal nunca concretizável, mais ainda. Quando dois cirurgiões plásticos "topo de gama" levam o lema do aperfeiçoamento como forma de exteriorização, para efeitos claros de projeção (uma espécie de sublimação das suas próprias imperfeições interiores), então...

NipTuck, para mim, é missa.

ps: embora nunca tenha tido uma postura crítica em relação à cirurgia estética (nunca consegui acreditar naquela coisa do "as minhas rugas fazem parte de mim"), sempre achei que existem verdadeiros monstros de artificialidade que não sabem parar. Ora, na última semana, quando fui ao dermatologista para tirar uns sinais, percebi bem. É tudo tão fácil. Está ali à mão. Entrei para tirar 3 sinais. Resultado: tirei 8.