Wednesday, May 31, 2006

Pelo menos a estrutura já tenho!


oh lord ain't that the truth...

Como um soco no estômago


Oh my god...I can't deny this
I've been taught just to kill and fight this
To bury it deeper where nobody can find it
Like nobody wouldn't know...

Oh my God - Guns n' Roses (End of the Days OST, 1999)

«Tem que ver com um egocentrismo muito próprio que pessoas como eu e tu têm, que é como quem diz achamos que devemos fazer diferença, contar para alguma coisa. O que ninguém nos disse que era verdade...»

O pior é quando aceitas que o conformismo conforte, e é mais do que a dose exactamente necessária para lidares com os tais "caminhos ínvios". Não podes negar. Já não dá para esconder.

E as fórmulas do passado recente já não dão conta do recado. Talvez encarar o processo de mudança, sem ver nisso necessariamente uma cedência. Afinal, é a tertúlia individual e interna de sempre: equilíbrio vs. concessão. E se esse equilíbrio nos faz sentir a prostituir, fazer perder os valores que orientaram a nossa eterna busca. Ou se é possível, como dizes, ter algum gozo no processo de aprendizagem e não linearmente uma correspondência em forma de débito, em proporção ao conforto material que cresce.

Mas realmente...quem e onde nos disseram que andamos aqui para fazer a diferença? De onde vem esta presunção? Formato geracional, será? Produto de um hedonismo exacerbado? Talvez daqui a uns tempos tenhamos a resposta, bem embrulhadinha em formato de crise pessoal.

(Imagem: "Cine" Batalha, o novo hype da cidade tripeira)

Monday, May 29, 2006

Guns n' Roses - Reencontro Existencial



Aqui expliquei a minha ligação existencial a esta coisa. Já dizem os the gift, bands can save your life. Passei quase metade da minha vida a ouvir Guns n' Roses. Quando era sinónimo de ter bom gosto, quando era sinal de ter mau gosto.

Até hoje, continuo a ver nas letras, nos sons, na postura, parte de mim, do que fui e do que sou. Todos os albuns, todas as músicas, todo o circo montado à volta deles, é uma espécie de segunda pele que mantenho contra tempos e marés. Dizia e mantenho: se a música dos Gn'R não tivesse letra, eu saberia o que queriam dizer na mesma (desculpem o pretensiosismo).

Não tem nada a ver com competência musical. Embora me acontecesse, frequentemente (como acontecia a quem me acompanhava), ter a sensação de ter escrito uma música fenomenal. E depois ter verificado, porra!, afinal eles já o tinham feito. Tem a ver com o facto de ser A banda sonora da minha vida.

Desenganem-se, não se trata de qualquer saudosismo. Não é voltar a uma era, embora sábado me tenham passado cenários, conversas, pedaços de curtas-metragens de pedaços existenciais dos quais quase não me lembrava.

Então: foi, efectivamente, um reencontro existencial. Axl tem, agora, 44 anos de idade. Já não pode, e tem essa consciência, correr de um lado extremo do palco para o outro lado e continuar a cantar como se nada fosse. Embora, pelo menos no sábado, se tenha tentado e com maus resultados. Axl Rose não está em boa nem em má forma. Está a desenvolver um formato que resultava antes e que agora não pode resultar. Vocalmente, e do ponto de vista da composição (veja-se "Madagascar"), continua com os seus dotes intactos. Psicoticamente brilhante. Um perfeccionismo exacerbado que leva a que o album Chinese Democracy esteja há 6 anos em estúdio...

No sábado não vi Guns n' Roses. Vi Axl Rose e o que resta deles, com substitutos que constituem promessas interessantes (Robin Fink e Michael Portes, por exemplo), mas pouco mais do que isso.

Vi um Axl mais calmo, mais tranquilo, parece que finalmente em paz. Poderia dizer domesticado, mas não creio. Acho que é um crescimento genuíno (confirmado por em NYC ter tocado novamente com Izzy Stradlin, depois de quase uma década de relações cortadas).

Mas de sábado ficou, sobretudo, o reencontro existencial. Uma sensação de ligação passado, presente e futuro. É que no dia 2 de Julho de 2006, eu tinha 16 anos e uma eternidade pela frente. Nos últimos 14 anos, tratei de vivenciar um trajecto, algumas vezes pautado pela auto-destruição, é verdade; corri riscos e enfrentei a vida de frente como quem se atira da ravina abaixo sem saber o que está lá em baixo. I started living my songs and my songs started killing me. Hoje sou uma pessoa evidentemente diferente (soa quase a redundância), mas de tudo o que a minha vida terá de especial, é também aos GN'Roses que o devo. Porque me abriram os olhos, fazendo-me ver a vida de outra forma.

A minha música de sempre dos GN'R não anda pela net(razão pela qual não a posso colocar no blog). Chama-se Coma, e foi a banda sonora do dia 5 de Novembro de 1992...Trata-se de uma música com 10 minutos e 13 segundos de duração, com uma letra muito longa (mas com a brutalidade contundente de um corte na aorta). E, se pudesse (quem sabe um dia posso?), tatuaria esta parte:

Ya live your life like it's a coma
So won't you tell me why we'd wanna?
With all the reasons you give it's
It's kinda hard to believe..

But who am I to tell you that
I've seen any reason why you should stay?
Maybe we'd be better off without you anyway!

You got a one way ticket
On your last chance ride
Gotta one way ticket
To your suicide
Gotta one way ticket
An there's no way out alive....

An all this crass communication that has left you in the cold
Isn't much for consolation when you feel so weak and old
But if home is where the heart is,
Then there's stories to be told
No, you don't need a doctor
No one else can heal your soul

Got your mind in submission
Got your life on the line
But nobody pulled the trigger
They just stepped aside...
They'd be down by the water while you
watch 'em waving goodbye

They'll be callin' in the morning
They'll be hangin' on the phone
They'll be waiting for an answer
When you know nobody's home
And when the bell's stopped ringing it was nobody's fault but your own...

There were always ample warnings
There were always subtle signs
And you would have seen it comin'
But we gave you too much time
And when you said that no one's listening,
Why'd your best friend drop a dime
Sometimes we get so tired of waiting
For a way to spend our time

And "It's so easy" to be social
"It's so easy" to be cool
Yeah it's easy to be hungry when you ain't got shit to lose

And I wish that I could help you
With what you hope to find
But I'm still out here waiting
Watching reruns of my life
When you reach the point of breaking
Know it's gonna take some time
To heal the broken memories
That another man would need just to... survive.

"Coma" - Use your Illusion I (1991)

Thursday, May 25, 2006

You know...you're right!

Herbert List


Era nessas alturas que ela lhe fazia mais falta. Era quando os outros se limitam a dar-lhe palmadinhas nas costas, deixa lá que isso passa, paternalistas que até doi.

You should see my scars.

Era nessas alturas que procurava por ela nos bosques da gratidão.

A vida nunca mais foi a mesma, e um homicídio planeado e executado ao longo do tempo, peça por peça, levou ao deserto. Tudo concluído, uma estranha liberdade de quem não tem amrras em lado algum, controlo por todo o lado, ganhando o respeito que sentiu vê-la perder. Mais: ganhou o carinho de quem a vê como holograma. Mas qual fado, a tentação é a mesma: não a vêem como pessoa. Quando finalmente se mostra pessoa, carne e osso, ninguém consegue aguentar com tantas camadas de ambivalência e ambiguidade. Causa náusea, causa enjoo.

You should see my scars.

Mentira. Ninguém aguenta com as cicatrizes dela. Mostram demasiada carne.
I would never bother you. I would never promise to. I will never follow you.I will never bother you. Never speak a word again. I will crawl away for good. I will move away from here. You won't be afraid of fear.
No thought was put into this. I always knew it would come to this. Things have never been so swell. I have never felt so well...
You know... you're right.(**)
(*) - Garbage
(**) - Nirvana

Armaggedon Bride

Herbert List, fotógrafo alemão, 1903-1975

- Estás a comemorar o quê, linda? O fim de uma era?

- O fim da festa, talvez...Sabes, Alexandre, sinto algo estranho a formar-se no meu corpo, sinto que uma transformação se aproxima. Tenho dores que anunciam qualquer coisa, sinais que me aparecem no corpo...Mas não receio a morte. Depois de tantas confusões e merdas, sinto que preciso de alguma paz...Preciso de me sentir em paz, nem que para isso tenha que morrer!

Nelson Sacramento, Morcegos Libertinos, Borboletas Nocturnas (2002)

Wednesday, May 24, 2006

É desta que eu fundo uma corrente na Psicologia (ou então um simples delírio um tanto ou quanto ocasional de grandeza)

Porque é que em vez de basear a prática psicoterapêutica num referencial existencialista (ie, não interessa se o que o cliente diz é verdade ou mentira, desde que seja a sua verdade; não interessa o que cada um sofre, mas como o sofre), não começo a postular o que desde já baptizo como o princípio House: por defeito, o que o cliente diz é mentira.

Os significados que atribui aos acontecimentos, aos episódios que constam da sua própria narrativa, todo o processo de significação e construção passa a ser encarado como uma rotunda mentira.

É, então, muito mais prático: o Sr. X não sofre. O Sr. X não tem ataques de pânico. A Srª Y não tem vaginismo. A menina Z não tem depressão reactiva nem chora desde que se levanta até que se deita.

Na volta, ainda podemos fazer este flik flak com o estigma do especialista (afinal na Faculdade estavam errados, dá um jeitaço ter o rótulo de especialista) e a malta vai para casa a achar que afinal não tem nada de mais.

Já há muito tempo que construo a teoria de que o mais importante é aquilo que o cliente diz em jeito de parêntisis. E que o mais estrutural é aquilo que menciona menos vezes. O princípio House só vem extremar a coisa.

Vou tentar esta coisa e depois informo.

(Qualquer semelhança com a realidade é pura ficção...
ou então não!)

By the way - the thing with happy families

Ani DiFranco, live at Carnegie Hall (NYC)
«So anybody who grew up in a fucked up family, which i assume is most of us...Do you find yourself being really suspicious of happy families, doesn't that just creep you out? Happy families with nice and lean manicured bushes? I got such an attitude about well adjusted families, who choooooose to come together, experiencing each other, because it's nice...»

RMA - Reprodução Médica Assistida & o Paleolítico

Bem sei, é melhor do que nada. Os deputados da Comissão Parlamentar (tivemos sorte, não houve pontes nem feriados) aprovaram ontem, na especialidade, a legislação que enquadra a Reprodução Médica Assistida (RMA).

Mais do que um suspiro de alívio para as mulheres e os casais que necessitam de ajuda terapêutica para engravidar, eu cá respiro de alívio porque esta futura lei obrigou a definir, finalmente!, alguns pressupostos basilares para, num futuro mais ou menos próximo (eu sou a eterna optimista) começar-se a legislar sobre investigação com células estaminais.

Nem vou entrar pelas tropelias dos corredores do Parlamento (BE vs PCP, votos contra de CDS-PP, como seria de esperar), mas face à lei base, não me deixa de causar estranheza que, de fora do acesso a esta ajuda médica para reprodução, fiquem o que estes iluminados chamam de "mulheres sós". Vim a descobrir, no entanto, que há a excepção das mulheres "que vivam em condições análogas às dos cônjuges há pelo menos dois anos." Aahhhh, bom, isso muda tudooooooooo. É lógico que viver com uma pessoa durante 2 anos é muito, mas mesmo muito melhor, que as ditas e escusas "mulheres sós".

Visto pela esquerda ou pela direita, vai tudo dar ao mesmo. Vê-se e constata-se que os senhores deputados continuam a achar que o que faz cidadãos como deve ser são as famílias tradicionais. Um pai, uma mãe, um filho ou dois (de preferência um casalinho para ser mais tradicional possível). É mentira. Dos casos mais tortuosos que acompanhei, a maior parte vinha destes ninhos felizes. É como a impossibilidade dos casais homossexuais adoptarem crianças, com uma mitologia arquétipa semelhante à dos comunas que comem criancinhas ao pequeno almoço.

Vamos lá ver se a gente se entende: é evidente que qualquer criança necessita de uma figura de tipificação sexual feminina e masculina (é isto que nos diz o que é ser "mulher" e ser "homem"). Mas será que os homossexuais não têm mãe, alguém que desempenhe o papel de tipificação sexual? E será que as tais mulheres sós não têm irmãos, tios, pai ou avô que desempenhem essa função? E se só o pai ou a mãe biológicos pudessem desempenhar essas funções, o que seria desses miúdos que nunca conheceram o pai ou a mãe?

E, atendendo às mudanças que andam a ser feitas na Segurança Social, então parece mesmo que quem, por opção, não queira casar ou até manter uma relação de coabitação, está à mão de semear de ser censurada pelo Estado. Seja do ponto de vista da sua carreira contributiva, seja do acesso à terapêutica médica.

Voltamos ao início. Esta legislação é um primeiro passo, pequeno passo. Mas pronto, é um passo.

Tuesday, May 23, 2006

Missa #6

Six Feet Under

Aunt Sarah: You know, vodka is for Russians what therapy is for Americans.
Brenda: Yeah. Habit-forming and destroys your ability to lead a normal life.

Monday, May 22, 2006

Frase do dia

"Nem sempre a passagem dos anos nos torna melhores (...) O que sucede é que, na maior parte dos casos, nos tornamos mais amargos e tendemos a desculpabilizar o nosso fracasso, endossando-o apenas aos que nos rodeiam"

Richard Zimler, escritor norte-americano radicado no Porto (autor, entre outros, do livro "O último cabalista de Lisboa")

Friday, May 19, 2006

Armando

Armando (1929- )
Armando é pintor, escultor, realizador, escritor. Eu só vi algumas pinturas. E foi sem surpresa que constatei ter sido vítima do Holocausto (oops, desculpem, afinal o Holocausto realmente existiu). Cria amálgamas grotescas de peso e vazio. E, lá está, para se sentir realmente o que ele pintou, não se pode nunca ver apenas de frente.

Thursday, May 18, 2006

Judy Grahn (Lobotomias, precisam-se!)

Love rode 1500 miles
on a greyhound bus & climbed in my window
one night to surprise both of us.

the pleasure of that sleepy shock
has lasted a decade now
or more because (s)he is
always still doing it and I am
always still pleased.

I do indeed like
aggressive (wo)men
who come half a continent just for me;
I am not saying that patience is virtuous,
Love, like anybody else,
comes to those who wait...
actively and leave their windows open.

Judy Grahn
(poetisa americana)

Wednesday, May 17, 2006

Fiona Bacana recomenda #5



A Naifa - Canções Subterrâneas

Fado experimental será a irritante etiqueta que mais vi repetida a propósito deste projecto.

Lembram-se daquele rapazinho que cantarolava aquele exemplo de música excepcional (de complexidade assinalável!) que rezava qualquer coisa como "Esta vida de marinheiro está a dar cabo de mim?" O nome é João Aguardela e agora toca baixo.

E lembram-se daquele mocinho leptossómico, que entoava como podia, numa pose Sex Pistols mas muito má, "aqui vou para a costa, aqui vou eu cheio de pica, de lisboa vou fugir, vou pro sol da caparica"? Esse chama-se Luis Varatojoso e é responsável pelo toque tradicional da guitarra portuguesa.

A vocalista chama-se Maria Antónia Mendes e nunca ouvi falar dela.

Depois destas "Canções Subterrâneas", há o "Três minutos antes da maré encher". Uma componente teatral e cénica muito forte, um cheiro a bairro alto "cosmopolita", tudo muito bom.

Para ouvir aqui.

A taste of your own medicine - trabalho & prostituição

A propósito do tema académico que me tem ocupado a mente nos últimos 2 anos (e antes disso ainda): se o trabalho pode, ou não, ser motor de desenvolvimento psicológico. Se o trabalho pode, ou não, tornar-nos - em senso comum - pessoas mais aptas, mais flexíveis, com mais autonomia no nosso próprio projecto existencial.

Mas eis que alguém vira o feitiço contra o feiticeiro. E a ti, o que te fez o trabalho?

Deu-me um melhor auto-conceito. Consigo perceber que sobrevivo sem muletas. Que há coisas em que sou boa (outras nem por isso). Que aprendi o verdadeiro conceito de auto-regulação, gerir timings e intervenções, donde advém um fantástico sentido de mestria.

Mas há coisas que eu não perdoo ao trabalho: fiquei pior pessoa. Nunca espetei facadas nas costas de ninguém, mas o lema "para filho da puta, filho da puta e meio" começa a passar-me pela cabeça pelo menos 3 vezes ao dia. Tarimbada pela experiência, já me passa - maioritariamente- ao lado ver pessoas a chorar. Perdi espontaneidade (custo da aprendizagem da tal auto-regulação). Aprendi a não dizer o que penso - total ou parcialmente. Lição essa a que me custou mais a aprender, porque invalidou uma escola de pelo menos 23 anos. Amputar-me de alguns dos valores que priviligiei durante esse tempo.

Pronto, em síntese: o trabalho demonstrou-me que consigo dar conta do recado. Que há pessoas que têm uma imagem nossa pré-definida, que embarra nos seus próprios valores, e que nunca (NUNCA!) nos hão-de reconhecer qualidade. E que convivemos todos os dias com uma fonte de não-reconhecimento, o que nos obriga ir a dentro de nós buscar a sensação de consciência tranquila. E auto-validarmo-nos, e procurar lá fora outras fontes de reconhecimento.

Isto é, confirmo para mim também: trabalho é prostituição. Recebemos dinheiro como indemnização por tempo que não passamos com as pessoas de quem gostamos e com quem realmente queremos estar. Para depois transformar essa indeminização em bens que nos consolem do tempo do qual abdicámos. Será que isto também vos soa a ciclo vicioso?

Monday, May 15, 2006

O regresso à normalidade - da época azul e branca e mais algumas coisinhas #4

Adriaanse e o futuro:

Se o holandês vai ser uma lufada de ar fresco no futebol português, só a Champions League do próximo ano o dirá. Ganhar campeonatos lusos, até Fernando Santos e Carlos Alberto Silva o fizeram. O problema será ver até que ponto o sistema Adriaanse resulta lá fora. Porque financeiramente, o FC Porto tem, pelo menos, de passar a fase de grupos.

O regresso à normalidade - da época azul e branca e mais algumas coisinhas #3

Adriaanse e os Jogadores:

Aqui o saldo é absolutamente zero: o trabalho excelente que fez com Pepe, Quaresma e Assunção e Raúl Meireles (e o Bosingwa no dia que aprender a cruzar pode ser dos melhores do mundo!), esbarra na teimosia com Jorginho (ao ponto de o ter tornado "o mal amado" no Dragão, Alan e Bruno Alves. Estes 3 não têm, nem nunca terão qualidade para representar uma equipa como o FC Porto.

De qualquer modo, olhem para o onze titular e tentem descobrir portugueses: quantos? Bosingwa, Pedro Emanuel, Raúl Meireles e Quaresma. Quatro. Quatro em onze. É ridículo e não tenho lembrança de o FCP ser campeão com tão poucos produtos da cantera no 11: ainda por cima, destes 4, 3 são da cantera boavisteira.

O regresso à normalidade - da época azul e branca e mais algumas coisinhas #2

Adriaanse, o sistema:

A mim não me incomoda o 3-3-4. Acho até engraçado o fulano vir cá para as terras dos tugas e implementar um sistema "esquisito". O meu problema com o sistema é o princípio: ele quer que o plantel se adapte às suas ideias, não participando (como ele próprio o afirmou!) na construção do mesmo. O próprio special one refere que este é o seu sistema preferido, mas não o aplica, por considerar que poucos planteis têm jogadores para o interpretar devidamente e porque duvida da transversalidade do modelo (competições nacionais e internacionais). Se há pouco disse que não me convenciam as explicações acerca da inexequibilidade de Diego no 11 portista, muito menos me convencem as explicações de Helton ser melhor do que Baía, o MITO Baía, o melhor GR de todos os tempos e a criatura em competição com mais títulos conquistados (mais do que Pélé e Rijkaard!) à face da terra. Não me convenceu o timing da substituição (a seguir à derrota na Amadora, com responsabilidades no 2º golo do Estrela), nem me parece ético que um treinador esqueça a quantidade de defesas impossíveis para substituir o GR no jogo seguinte. E, mais uma vez, falta de tacto na gestão do balenário. Até porque, aquando da lesão de Helton, Baía demonstrou em vários jogos como consegue ser tão rápido na transposição defesa-ataque como o brasileiro, ocupando de forma eficiente os tais "espaços" de que Adriaanse fala.

O regresso à normalidade - da época azul e branca e mais algumas coisinhas #1



O FC Porto conquistou o título de campeão da Liga Portuguesa 2005/2006 e a Taça de Portugal. Alegre? Evidentemente. Eufórica? Nem por sombras. E aqui reside o sintoma de sucesso e de mudança de um clube que, há 30 anos atrás, era pouco mais que um clubezeco de uma região escondida a Norte de Portugal.

É que o FC Porto fazer a dobradinha é só o regresso à normalidade. O FC Porto é campeão, SLb e SCP disputam o 2º lugar. FC Porto com maior orçamento, com melhor estrutura. Tudo normal, portanto.

Ainda assim, há algumas questões que beliscam esta época. Nomeadamente a figura do seu treinador, Co Adriaanse.

Adriaanse, Treinador:

Era legítimo que depois de uma época atípica (3 treinadores...) quem viesse tivesse as costas quentes para cortar a direito no balneário. Foi com agrado que vi a carruagem de brasileiros de qualidade duvidosa (leo, leandro do bonfim, claudio pitbull) a terem guia de marcha. Esses não me incomodam porque não trazem qualquer mais valia ao plantel e ao clube. Mas a forma como Co Adriaanse deu guia de marcha a Jorge Costa, Postiga e Diego é inqualificável. No caso do primeiro, ainda dou o benefício da dúvida, embora o FC Porto não tenha jogado, nos 4 primeiros meses da época, com o sistema de 3 defesas. E, raisparta, quem é que pode dizer que o Bruno Alves, esse coveiro (enterrou a equipa quantas vezes, Sr. Adriaanse?), é melhor do que o Jorge Costa? E Postiga, que mal tão incessante terá feito ele que uma passagem de 2 semanitas pela B não fosse suficiente para o recuperar? Isto já para não falar de Diego, um activo (sem salários nem prémios contabilizados) de 7 M€...nenhuma das explicações de Adriaanse me convencem, nem mesmo com aquele diagramazito em que basicamente ele não consegue explicar que o estilo de Jorginho (2 passes, erra 1) é melhor do que o vício enervante de Diego (aquele girar de corpo quando está com a bola de frente). Ora, se no caso de Jorge Costa não vem grande mal ao mundo, os casos de Postiga e Diego revelam uma preocupante inoperância de rectificação e revalorização dos atletas, digam o que disserem, ainda assim uma responsabilidade do treinador.

Friday, May 12, 2006

The Gift - Queima das Fitas do Porto



The Gift sempre ao seu nível, com o ambiente Queima das Fitas próprio dos dias que realmente interessam. O que mais vou sentir saudades é da espontaneidade com que se distribuem abraços e o sorriso como modo pré-definido de expressão facial.

Mesmo sabendo que tudo passa e tudo termina, comigo levo todos os sentimentos e todos os sentidos (mesmo os olfactivos!) dos momentos que não acabam, os laivos de imortalidade de quem pensa que a vida não termina nunca...

O meu lugar, custe o que custar, já não é ali.

Thursday, May 11, 2006

A propósito do Código da Vinci e da Opus Dei

«At least two thirds of our miseries spring from human stupidity, human malice and those great motivators and justifiers of malice and stupidity, idealism, dogmatism and proselytizing zeal on behalf of religious or political idols».

Aldous Huxley

Wednesday, May 10, 2006

Fiona Bacana recomenda #4



Andrew Bird - Andrew Bird and The Mysterious Production of Eggs

Um one-man show...

Tuesday, May 09, 2006

A minha neoplasia existencial: síndrome variações

É uma angústia fútil e permanente. É uma espécie de zapping mental, mas as horas demoram eternidades para no segundo seguinte tudo se consumir à velocidade da luz. Ansiedade frívola. Preciso de sair daqui.Preciso.

Agora sim, estou como quero. Onde quero. Mas não, afinal não é aqui. Preciso de sair daqui. Rápido. Não consigo ver esta gente à minha frente. Cala-te senão levas uma resposta torta, cinismo atroz é o nome que se dá à agressividade assertiva.

So need your love, so fuck you all. Não preciso desta gente. Vou-me embora. Mas espera, afinal isto custa. Isto angustia demais. Saio daqui, é ali o meu lugar. Viro o universo para lá chegar.

Virei o universo para cá chegar.
Finalmente. Paz....
Mas espera, afinal também não é aqui.

Não consigo dominar
Este estado de ansiedade
A pressa de chegar p'ra não chegar tarde

Não sei de que é que eu fujo
Sera desta solidão ?
Mas porque é que eu recuso
Quem quer dar-me a mão ?

Vou continuar a procurar
A quem eu me quero dar
Porque até aqui eu só...

Quero quem, quem eu nunca vi
Porque eu só quero quem, quem não conheci

Esta insatisfação
Não consigo compreender
Sempre esta sensação
Que estou a perder
Tenho pressa de sair
Quero sentir ao chegar
Vontade de partir
P'ra outro lugar

Vou continuar a procurar a minha forma, o meu lugar

Porque até aqui eu só...
Estou bem aonde eu não estou
Porque eu só quero ir
Aonde eu nao vou...

António Variações, Estou Além

L'enfer c'est les autres (Jean Paul Sartre)


Praga, 2001

Monday, May 08, 2006

Daniel & a Psychélândia

Por um ensino mais leve. Uma faculdade do Porto pode ser afastada do modelo de Bolonha porque o seu processo pesava demais.

Daniel Oliveira, in Expresso (6.05.06)

Caro Daniel, obrigada pela referência. E obrigada por não mencionar o nome da dita Faculdade. Que por acaso é a que tem, no seu domínio, a maior percentagem de bolseiros de doutoramento FCT (mais do dobro do que a que ocupa a 2ª posição) e o maior número de doutorados (e pós-doutorados).

Por essa razão, desculpem-me a franqueza com que assumo o lobismo agudo, não creio que fique de fora. Mas uma coisa é certa: já me ofereci para fazer a folha (*) ao chefe da funcionária da Reitoria que não entregou a documentação nos correios por pesar mais 300 gr do que o permitido. A culpa não é dela. É de quem a contratou e, mais ainda, a supervisiona. É o que dá andar mais preocupado com as reformas antecipadas e os dias de pontes nos calendários.

(*) E com todo o gosto.

Sem tirar nem por

...mas só com uma pequeníssima alteração: a Selecção Nacional já não existe. Eu chamo-lhe Equipa A da Federação Portuguesa de Futebol Profissional.

"Para além da espuma das coisas" - Miguel Sousa Tavares

«Imagine, leitor, o seguinte cenário: uma empresa constitui-se tendo como grande objectivo concorrer a um concurso internacional de prestígio mundial — chamemos-lhe a Empresa. O capital necessário é reunido por subscrição pública, entre pessoas commuito, com algum ou com pouco dinheiro, que acreditam no projecto—chamemos- lhes os Accionistas. Para o liderar, a Empresa contrata um dos profissionais com mais nome no mercado internacional, a quem se dispõe a pagar um ordenado milionário — chamemos-lhe o Profissional. O Profissional reune então uma equipa de quadros altamente qualificados — chamemos- lhe a Equipa—e, durante dois anos, eles preparam-se, com todas as condições, todas as mordomias e todo o crédito, para a tarefa que a Empresa e os Accionistas lhes confiaram— chamemos-lhe o Evento. E, então, doismeses antes do evento, o Profissional aceita reunir-se em segredo com uma empresa concorrente daquela que lhe paga, com o propósito de contratar os seus serviços após o Evento. Ou seja, quando toda a gente, a começar pela Empresa que passou dois anos a pagar-lhe umordenado de luxo, o imagina apenas concentrado no objectivo definido e a mobilizar a sua Equipa para tal, ele está a negociar um novo contrato, acautelando o futuro. Agora, leitor, ponha os nomes às coisas: onde está Empresa, leia Federação Portuguesa de Futebol; onde está Accionistas, leia pagadores de impostos; onde está Evento, leia Mundial de Futebol; onde está Equipa, leia Selecção Nacional; e onde está Profissional, leia Luiz Filipe Scolari. Foi isso que aconteceu: o nosso Seleccionador Nacional, o mesmo que em devida altura vai fazer um apelo ao patriotismo dos portugueses e às bandeiras desfraldadas nas varandas e nos carros, aceitou reunir-se, dois meses antes do Mundial, com representantes da Federação de Futebol Inglesa para discutir as possibilidades de trocar de bandeira, logo após o Mundial. Sim, eu sei: vão-me dizer que ele é um profissional e que o futebol é assim, nos tempos que correm. Mas, então, por favor, não me venham com patriotismos, e «a Selecção de todos nós», e o «treinador de todos nós» e outras bugigangas que tal. Eu pago, eles que joguem, e ponto final. Parece, também, que o «nosso» seleccionador não ficou muito entusiasmado com o convite da Federação Inglesa: o ordenado não era assim tão superior ao que lhe pagamos, o clima é pior, a segurança não é comparável, a família gosta mais de Lisboa e a imprensa aqui é bem mais simpática e compreensiva. Acho uma escolha muito legítima e sábia. Mas, por favor, não a venham depois apresentar como amor a Portugal ou «compromisso de cavalheiros». As coisas são o que são. »

Ps: para quem acha que eu ando muito caladinha sobre as coisas da bola, aqui fica a promessa: falo quando a época azul e branca acabar.

Não me surpreende nem angustia

Aqui vemos que Portugal sempre consegue ser primeiro em alguma coisa.

Não me surpreende e, desde já, constato dois factos que podem ter permitido este aumento de divórcios em Portugal:

1) ainda que continuem, vá-se lá saber porquê, a ganhar em média menos 500 euros que os homens (em iguais funções, note-se), as mulheres já não entregam de bandeja ao marido a sua sobrevivência e independência económica (uma das motivações mais salientes no público feminino que trabalha fora de casa). Ora esta "independência" permite-lhes ficarem apenas orfãs de uma dependência de cariz mais emocional (o estereótipo da "mulher divorciada", o futuro dos filhos), e já não apenas reféns da providência económica que, tendencialmente, o marido tende a fornecer;

2) a prevalência do catolicismo - nem que não seja um catolicismo cultural - já não deixa que as pessoas fiquem miseráveis e infelizes por um juramento, perante whoever, feito a maior parte das vezes pelas inenarráveis e a maior parte das vezes implícitas pressões sociais (só para terem uma ideia, a indústria associada ao casamento constitui 3% do PIB nacional).

Nada disto me angustia (e nem me venham com a piada de que o mau relacionamento conjugal é bom negócio para os psicólogos!) e explico porquê: é sinal que as pessoas perceberam que nasceram para serem (ou irem sendo) mais felizes e que é preferível um bom divórcio a um mau casamento. Mesmo para a as crianças.

Friday, May 05, 2006

Baque geracional...

é entrar nos corredores da nunca-ex-Faculdade e dar de caras com uma fotografia nossa a preto e branco...Veio-me à cabeça, imediatamente, a cena do Dead Poets' Society em que Mr. Keating leva os seus alunos ao corredor de honra:

Keating: Now I'd like you to step forward over here. They're not that different from you, are they? Same haircuts. Full of hormones, just like you. Invincible, just like you feel. The world is their oyster. They believe they're destined for great things, just like many of you, their eyes are full of hope, just like you. Did they wait until it was too late to make from their lives even one iota of what they were capable? Because, you see gentlemen, these boys are now fertilizing daffodils. But if you listen real close, you can hear them whisper their legacy to you. Go on, lean in. Listen, you hear it? --- Carpe --- hear it? --- Carpe, carpe diem, seize the day boys, make your lives extraordinary.

Yeap, we thought we were destined for great things. Extraordinary.
O salto no vazio do futuro foi feito em delírio.
Independentemente do que aconteceu depois, não me imaginaria a viver o dito salto de outra forma. Prefiro, e continuo a preferir, a vertigem da emoção do que a ausência de.

Ouçam isto quando virem a minha fotografia.

Thursday, May 04, 2006

Ai Vítor, Vítor...


Que quase me provocavas uma indigestão ao almoço (leia-se: os "perigos" de viver na mesma cidade que O MITO)...

(Suspiro)

Da Lusitânia #2

Dou por adquirido que a promoção da natalidade (em bom português, ide e multiplicai-vos) é uma necessidade imperiosa face a uma população envelhecida como a nossa.

Que existam medidas de descriminação positiva, sou menina para concordar. Mas, a confiar nas palavras do constitucionalista Saldanha Sanches, há o inverso: a penalização na carreira contributiva de quem opte por ter menos que 3 filhos. O que, segundo o douto senhor, seria anti-constitucional.

Ora eu não sou especialista (cruzes, credo, canhoto!). Mas ou a vida neste planeta muda muito ou eu só vou ter um filho. E por causa dessa minha decisão, e do pai da criança, o Estado penaliza-me?

Só na Lusitânia...

Da Lusitânia #1

Portugal assiste ao recorde de reformas por minuto. Algumas delas absolutamente necessárias, outras mais operação de cosmética do que outra coisa.

Ontem, Mário Lino (Ministro das Obras Públicas) apresentou um projecto que, a ser exequível, não só vai moralizar o sector de gestão de empresas públicas, como o irá tornar mais eficiente. Os salários dos gestores de empresas públicas (CP, Carris, Tap, só para mencionar algumas) são principescamente pagos apesar destas empresas acumularem défices gigantescos algumas delas há mais de 10 anos. Para além de salários quase pornográficos (muito e muito superiores ao chefe máximo do Estado, o Presidente da República), são alvos de benesses no que diz respeito a pensões a la Banco de Portugal (vide caso Mira Amaral). Isto, repito, apesar dos buracos gigantescos nos seus relatórios e contas. Vai daí o Ministro coloca sobre a mesa contratos por objectivos. É bem. Eles agora que se desunhem, porque com a excepção do Fernando Pinto, administrador da TAP, nenhum deles parece merecedor de tais regalias. Como é que a CP, sem concorrência em Portugal, consegue ter um défice monstruoso? Não compreendo.

Por sua vez, Vieira da Silva (Ministro da Segurança Social), apanha o touro pelos cornos e começou a cortar a eito na Adminstração Pública, o que só por si é sinal que é corajoso (ou então o gajo é suicida). Mais tarde ou mais cedo, teria que mexer nas reformas. E fê-lo com uma assumpção básica: não podemos conceber o mesmo modelo de estado providência, quando a esperança média de vida subiu claramente nas últimas décadas. Por isso, logicamente, faz sentido prolongar a carreira contributiva dos cidadãos.

Antecipo, no entanto, alguns problemas: desde já, o patronato, já veio dar a entender que não quer trabalhadores velhos. Velhos? Mas e os grandes administradores, que idade têm? Fernando Ulrich, Jardim Gonçalves, Belmiro Azevedo, terão eles 40 anos? E será que não há vantagens em ter trabalhadores com 65 anos? Será que esta gente nunca ouviu falar de business angels? Será que uma pessoa de 65 anos, agora com os filhos crescidos e criados, não poderá dedicar-se mais ao seu trabalho, para além da optimização de competências de uma história profissional de várias décadas? É facilitismo, é o que é. Porque custa muito dar formação, não é verdade? Porque preferem os meninos saídos da Universidade, que trabalham muitas horas por pouco dinheiro (porque 750€ para 1º emprego já é um luxo!), sem responsabilidades familiares nem preocupações de ir buscar os meninos ao ATL antes das 19h...

Só na Lusitânia...

Wednesday, May 03, 2006

A propósito da comemoração do nascimento de Freud


Dr. Goldfine: I'm sure Freud would not approve of this.
Bree: Oh, who cares what he thinks. I took psychology in college. We learned all about Freud. A miserable human being.
Dr. Goldfine: What makes you say that?
Bree: Well, think about it. He grew up in the late 1800s. There were no appliances back then. His mother had to do everything by hand, just backbreaking work from sunup to sundown, not to mention the countless other sacrifices she probably had to make to take care of her family. And what does he do? He grows up and becomes famous, peddling a theory that the problems of most adults can be traced back to something awful their mother has done. She must have felt so betrayed. He saw how hard she worked. He saw what she did for him. Did he even ever think to say thank you? I doubt it.

Bree Van der Kamp - Desperate Housewives (2004)

Quando ainda dizia, em contextos sociais onde não conhecia bem as pessoas, que era psicóloga, várias coisas assustadoras aconteciam. Já me aconteceu ter uma pessoa aos berros aos meus ouvidos durante 30 minutos, tentando explicar que somos ainda mais demoníacos que os padres. Já me aconteceu receber "o olhar" que alguns, poucos, ainda acabam por verbalizar: "ok, agora vais analisar o meu comportamento durante os próximos tempos, não é?". Já tive um taxista a pressionar-me para lhe dar uma consulta, "porque toda a gente que esteve no Ultramar deve ter essa coisa do stress pós traumatizado". Isto já para não falar nas pessoas que se aproximam e que me vêm falar, na fase do café e sobremesa, sobre o tio-do-primo-da-sobrinha-que-deve-só-pode-estar-com-uma depressão. E, last but not the least: "Ah, és psicóloga? O Freud era um tipo muito marado...". (Versão alcoólica: "ah, aquele tipo que só pensa em sexo...também és assim?". Sorriso.)

Pois era. Marado no sentido insidioso do termo. O que se pode dizer de uma pessoa que, ao desejar experimentar os efeitos de alguns químicos na hipnose, acaba por matar o melhor amigo com uma dose cavalar de morfina e heroína? Ou que passou anos em abstinência sexual porque acreditava piamente no conceito de pulsão e canalização de pulsão (se concentrasse toda a pulsão no seu trabalho, seria mais produtivo)?

Não sou fanática de Freud. Vejo a corrente psicanalítica (que não se esgota em Freud, pelo contrário) mais como uma narrativa, que criou conceitos completamente pioneiros para o final do século XIX e que quanto mais aprofundo os meus anitos de circo, mais constato. A própria psicanálise é uma ferramenta poderosíssima, mas é profundamente elitista (3 consultas por semana num mínimo de 100 euros cada não é para qualquer um), pode viciar o cliente nos seus próprios inenarráveis labirintos, porque sofre de um viés individualista e intrapsíquico claro e inquestionável. Mais: que em muito pouco contribui para o sujeito operar nos seus reais contextos de vida, porque tende a negligenciar os outros níveis de análise (micro, macro, meso e exo...). Traduzindo: a psicanálise, pelo menos a ortodoxa, tende a negligenciar outros níveis de influência, mormente a influência das macro-estruturas sociais (e a crise que vivemos está materializada no nosso quotidiano, limitando a vivência e a existência dos sujeitos).

A própria corrente psicanalítica tem ultrapassado os seus próprios dogmas e limitações, com autores como o Arno Gruen ("A Traição do Eu" - o medo da autonomia no homem e na mulher") ou o Leon Grinberg ("A loucura da normalidade").

Mas o que mais me irrita no senso comum acerca da Psicologia é a ligação Freud-sexualidade. Facto: para Freud, o desenvolvimento é de natureza psicosexual. Mas, MAS!, o conceito de sexualidade é completamente diferente do senso comum: para Freud, sexualidade é tudo o que proporciona prazer. Um conceito muito alargado, portanto.

A Psicologia já existia antes de Freud. Não é, portanto, o seu fundador. Mas se criou uma corrente que ainda hoje é - ainda que muito classissista - profundamente aplicada, é porque será, certamente, uma das mentes mais brilhantes do século XX.

Tuesday, May 02, 2006

Serviço Público


Volta e meia a RTP lembra-se da sua principal missão: Serviço Público.

É o caso de um programa chamado "Príncipes do Nada" que procura casos de gente que diz adeus à vidinha de conforto (e só sabemos o real conforto que temos quando aquilo que temos por básico não está à nossa frente) para - temporária ou definitivamente - fazer a diferença na vida de outrem.

Bem sei que este programa rapidamente pode resvalar para o lado lamechas da coisa, até porque lá temos a Catarina Furtado. Cuja emocionalidade deve estar à flor da pele, mas para já...

20 000 seconds


20 000 seconds since you've left and I'm still counting
And 20 000 reasons to get up, get something done
But I'm still waiting

Is someone kind enough to pick me up and give me food,
assure me that the world is good ?
But you should be here, you should be here
How colors can change and even the texture of the rain
And what's that ugly little stain on the bathroom floor
I'd rather not deal with that right now
I'd rather be floating in space somewhere or
Worry about the ozone layer...


K's Choice - "20 000 seconds" (Cocoon Crash, 1998)