Thursday, March 30, 2006

Do amor, da fidelidade, da monogamia, da poligamia...#2

Facto: a maior parte da população mundial não é monogâmica. Porque os grandes contribuidores para os terráquios, mormente a zona do Médio Oriente, Ásia e África, não veiculam essa obsessão pela monogamia.

Interpretação: a civilização Ocidental é que fez da monogamia um dispositivo de normalização comportamental, disparando pelos media mensagens irrealistas acerca do amor romântico, condenando as pessoazinhas a compararem as suas relações e "aspirações a "a um referencial inatingível (porque se trata de um mito).

Assistimos, por outro lado, a uma simplificação abusiva das nossas etiquetas: gostamos de amigos mas amar só amamos os namorados.

Ora, desculpem lá a falta de modéstia, mas o meu reportório emocional não se resume a dois tipos de resposta: amor e amizade. E só a conversão de amor em amizade (para explicar todos os outros, numerosos outros, de quem gostamos) é sintoma do espírito de normalização que acima expliquei.

Mais ainda: porque é que a ausência de monogamia é encarada como infidelidade? Se não somos - tendencialmente - monogâmicos, não estabeleceremos as nossas relações em expectativas irrealistas? E porque assumir o comportamento não-monogâmico como "traição" (se não houver mentira pelo meio)?

Não estarão as nossas concepções de amor romântico e de relacionamento comprometidas desde o início?

E mais não digo até a G. pôr cá fora a tese...

Do Amor, da fidelidade, da monogamia, da poligamia #1

«As well as questioning rules around fidelity, polyamory can be seen to challenge the supposed mutually exclusive categories of “friend” and “lover” inherent in the dominant version of heterosexuality. Burr and Butt (1992) argue that we generally divide relationships into “friends” and “lovers,” and that these culturally available categories exert a “terrific pull on people’s behaviour and experience” (p. 23), according to the Kellian notion of “anticipation.”

People are expected to have one “lover” and anyone else should fall into the category of “friend,” with strict cultural rules around what behavior is appropriate in a friendship and problems experienced when a relationship seems to fall somewhere between the either/or categories of friend and lover (e.g., a close opposite sex friendship or a lover one is no longer sexual with). Friendships are generally seen as less important than love relationships, as exemplified in the common language of two people being “just” friends. In polyamorous relationships, there can be more than one lover, and the distinctions between friends and lovers may become blurred.

Several participants spoke of such a blurring of the distinctions, for example, by having “sexual friends” or by placing emphasis on people they were close to, whether or not the relationships were sexual. For example: Good friends now are former lovers or the former or current partners of former lovers.

This whole community is kind of like that. It’s a strength. Again, it was argued that this could be threatening to people outside polyamory. Despite this common discourse of polyamory as very different to monogamy, participants also frequently argued that polyamory was not so different. For example: I don’t think it’s vastly different to monogamous relationships. Romantic relationships are always about the same kinds of things: fun, friendship, sex. »

Barker, M. (2005). This is my partner, and this is my...partner's partner: constructing a polyamorous identity on a monogamous world. Journal of Constructive Psychology, 18, 75-88.

Wednesday, March 29, 2006

Tatuada para a vida

Respirava com dificuldade. Torcia os dedos e caminhava lentamente. Ao atravessar uma rua, olhou para a esquerda. Não se deu ao trabalho de olhar para a direita. Atravessou.

Pensou que talvez fosse mais fácil não olhar. Seguir apenas e atravessar. Mais tarde, pela cabeça pesada que olhava o cimento, diluiu o olhar, naquele jeito semi-cerrado de quem acabou por ser atingido.

Todos os dias o mundo fazia questão de lhe mostrar que não é mulher que chegue, inteligente que chegue, bonita que chegue, competente que chegue, cidadã que chegue.

E todos os dias fazia questão de tentar mostrar ao mundo que, ainda assim, lutava. Não sabia bem porquê, mas continuava.

E quando tomava o caminho mais longo para a última casa, construções de sons distímicos invadem a alma. E, quando finalmente chega, recebe um envelope de um país longínquo com um souvenir sui generis.

Foi tatuada para a vida.

Today's Mindset


The call to arms was never true,
Time to imbibe, here's to you,
I'll tell you stories bruised and blue,
Drum machines and landslides.
Just one more round before we're through,
More psychedelic yuppie flu,
It's such a silly thing to do,
Now we're stuck on rewind..
Let's follow the cops back home,
And rob their houses.
The call to arms was never true,
Let's take a ride and push it through,
Suspended animation in blue,
Blame it on apartheid,
Let's spend the night in Jimmy's shoes,
I'll give you coats and cheap shampoo,
I'll give you nothing else to do,
Now we're stuck on rewind...
Let's follow the cops back home,
And rob their houses...
The call to arms was never true,
I'm medicated..how are you?
Let's take a dive swim right through,
Sophisticated point of view.
Let's follow the cops back home...
And rob their houses.
Placebo - "Follow the cops back home"
Meds - 2006

Tuesday, March 28, 2006

Da "ciência" - O amor como equação


Paals Nilsen - Love: sticks and stones

Sempre gostei do conforto que os números trazem. Tenho um fascínio por gráficos. Sempre estudei à base de esquemas, uso símbolos numéricos como abreviaturas (exemplo: em f(x) de...leia-se em função de). Adoro máquinas cálculadoras, sobretudo aquelas xpto, embora não precise delas no dia a dia. Os meus cadernos são, há 15 anos, quadriculados.

Concebo as fórmulas e os gráficos como forma de simplificar a realidade - às vezes excessivamente diversa, com demasiados tons in between.

Gosto, então, de tentar reduzir a realidade a operações aritméticas.

«Sendo:

A=amor entre 2 pessoas
P=paixão entre 2 pessoas
F=força de atracção entre 2 corpos
d=distância entre 2 corpos
T=tesão entre 2 corpos
m=massa de um corpo
x=pessoa x, com corpo x
y=pessoa y, com corpo y
Dxy=diferenças entre x e y
t=tempo
G=força da gravidade

E considerando que a atracção entre dois corpos é o somatório da força da gravidade, da paixão, da tesão e do amor entre eles:

F=G+P+T+A

E sendo a gravidade directamente proporcional à massa e inversamente proporcional ao quadrado da distância:

G=m/d2

E sendo a paixão inversamente proporcional ao tempo e às diferenças entre as pessoas

P=1/Dxy.t

E sendo o tesão directamente proporcional à distância entre os corpos e inversamente proporcional ao tempo e à massa desses corpos:

T=d/m.t

Então a a fórmula que expressa a força de atracção entre 2 pessoas é:

F=m/d2 + 1/Dxy.t + d/m.t + A

Sendo que aquilo que se deseja encontrar é a solução para a seguinte equação:

mi /di2 + 1/ Dxyi.ti + di/mi.ti + A = mf/df2 + 1 /Dxyf.tf + df/mf.tf + Af»

Fernanda Young "Aritmética"

Monday, March 27, 2006

Geração 1000 euros - por Daniel Oliveira

«EM França, Villepin e Sarkozy continuam a sua disputa de virilidade. Depois de Dominique ter perdido por KO na melhor maneira de lidar com a «escumalha» dos arredores, passa à frente de Nicolas ao tentar pôr a parasitagem juvenil na ordem. A lei que levou mais de um milhão de franceses para a rua é simples: nos primeiros dois anos de vida profissional, o jovem trabalhador é relegado para a condição de escravo sem dono. Pode ser despedido a qualquer momento sem justa ou injusta causa.

Os jovens, vejam bem o «topete», foram para a rua. Os nossos «soixante-huitards» puseram-se logo a milhas. Nada a ver com os saudosos tempos do Maio de 68. Maoistas reconvertidos, que há quarenta anos andavam de livrinho vermelho na mão, explicam que, ao contrário da sua infinita generosidade, que os levava a querer mudar o mundo, esta gentinha egoísta só se quer safar. E têm razão. Esta geração não está enfadada do conforto e das boas maneiras. Está condenada. São melhores que os seus pais e viverão muito pior do que eles. Como explica um livrinho de dois jornalistas italianos (Geração 1000 euros), passaram anos a estudar e a preparar-se e não podem ambicionar a mais do que um emprego desqualificado e sem futuro e um ordenado eternamente miserável. A destruição do Estado Social começa por eles. É-lhes explicado que os «privilégios» dos pais e dos avós são chão que deu uvas. A própria ideia de que se tratam de privilégios é já um programa político. Outro vocábulo: «inevitável». Nada é política, tudo remete para um destino que ultrapassa as nossas vontades.

Os últimos sessenta anos de paz social e política na Europa foram garantidos pelos «privilégios» que agora se atiram borda fora. Sem eles, esta geração não terá nada a perder. E quando nos reencontrarmos com a frustração de quem não tem nada a perder, aí sim, sentiremos saudades do pacato Maio de 68.»

Daniel Oliveira (sim, o do Eixo do Mal) in Expresso

Blog do Dia #2 - Odeio casalinhos

Aqui. Teorias acerca de Barbie & Ken.

K's Choice - Virgin State of Mind

«There's a chair in my head on which I used to sit
Took a pencil and I wrote the following on it:

Now there's a key where my wonderful mouth used to be
Dig it up, throw it at me
Dig it up, throw it at me

Where can I run to, where can I hide
Who will I turn to?
Now I'm in a virgin state of mind

Got a knife to disengage the voids that I can't bear
To cut out words I've got written on my chair
Like do you think I'm sexy?
Do you think I really care?...

Can I burn the mazes I grow
Can I? I don't think so?

Where can I run to, where can I hide?
Who will I turn to?
Now I'm in a virgin state of mind... »

Friday, March 24, 2006

Fiona Bacana recomenda...


Escrito pelos manos Wachowski (os mesmos de Matrix e Bound), é um filme realizado sob a égide de um lema que diz tudo: people should not be afraid of their governments. Governments should be afraid of their people.
Baseado na extrapolação do conceito de empowerment da comunidade, apresenta uma banda sonora de luxo, com nomes como Anthony and the Johnsons e Julie London (fantástica versão de Cry me a river), com os instrumentais a cargo de um cavalheiro chamado Dario Marianelli, que por acaso já tinha recebido uma nomeação para Óscar pelo seu trabalho de composição do filme Pride & Prejudice.

Natalie Portman, actriz que para além de Cold Mountain e Closer não me parece grande espingarda, aparece neste filme com grande credibilidade; Hugo Weaving transmite à personagem "V" todo o carisma de que necessita para arrastar multidões para a sua sociedade distópica (contrária à sociedade utópica). Excelente ao nível dos cenários (londres futurista), só era de dispensar tanto fogo de artifício...mas o que se pode fazer quando o filme é distribuído pela Warner Brothers?

Thursday, March 23, 2006

E eu hoje não me calo


Vejam este naco de prosa:

«O futebol às vezes é uma lição de vida. Vítor Baía, o jogador com mais títulos na história do futebol, ofereceu, ontem à noite, a primeira final da carreira a Adriaanse, o treinador com quem não tem tido vida fácil. Eram 23.33 horas quando Lisandro chutou para a rede o décimo penáti da noite e Baía caiu de joelhos no relvado, a celebrar a conquista. De uma só vez, o guarda-redes ganhava o duelo com Ricardo (não resistiu a logo a seguir festejar a vitória em frente ao guarda-redes do Sporting*), com João Moutinho, a quem defendeu a penalidade, e acrescentava mais uns créditos no coração dos adeptos, que saíram do estádio felizes com o "seu" guarda-redes. Depois do frango da Luz, Baía volta a renascer, o que tem sido uma constante na impressionante carreira. Parece história de filme. »

*e fez ele muito bem!eu até teria feito pior!

Truth is generally the best vindication against slander (Abraham Lincoln)



Podem difamá-lo, ridiculizá-lo, vilipendiá-lo. Vítor Baía, como sempre, renescerá sempre com esplendor para demonstrar ao mundo a qualidade inata dos campeões: a sobrevivência após cada sentença que o mundo dos mortais insiste em assinar, esquecendo que a imortalidade é qualidade intrínseca aos MITOS.

Hoje chove e há dilúvio. Se forem as lágrimas de Ricardo, pois que chova, que vente e que traga até o dilúvio. É a paga mais do que justa para gente inferior, mesquinha e de débil. Como é o caso desse "cavalheiro".

Wednesday, March 22, 2006

Growing pains

«Eu quero que me ames como eu sou, mas para isso é preciso que me conheças; para me conheceres é preciso que eu me queira dar a conhecer; para eu querer, é preciso não ter medo de ser rejeitado, ainda que isso possa ser possível; mas só aceitando-me como eu sou me poderás amar»

Costa, M.E. (2005) cit in À procura da Intimidade

The million dollar question of the day: how much of me can one take?

Irresistível...#2

«O que fazem as religiões é lá com elas: há dias, uma jovem que aspira a casar pela Igreja Católica porque, no seu conceito, «a festa assim é mais bonita», mostrava-me, revoltada, as folhas do curso de preparação para o matrimónio em que a magia íntima da atracção física surge reduzida a «uma inclinação espontânea e instintiva, impulsiva, egoísta e possessiva». No mesmo curso, distribuem-se fichas de «apreciação» à noiva e ao noivo com itens diferenciados: enquanto se pede ao noivo que avalie «as qualidades como dona de casa» da noiva, a ela pede-se que avalie «a atenção à família» do futuro cônjuge; enquanto a noiva deve avaliar se o seu querido tem «personalidade forte», o noivo deve avaliar se a sua amada tem dotes de «doçura e ternura». Disse-lhe: quer casar católica, agora já sabe em que consiste o catolicismo. Numa religião, a pessoa, se quiser (e só se quiser) inscreve-se e acata - e ninguém tem nada a ver com isso. Há gostos para tudo, até para viver sob a violência do duplo padrão.»

Inês Pedrosa (in Única - Expresso) - A Inocência e o Pecado II

Irresistível...

«Vivemos depressa para vivermos pouco, temendo que o excesso da vida nos leve à morte. Tudo nos leva à morte; o que mais pode adiá-la é a coragem de intensificar a vida, uma coragem que consiste na escuta dos nossos sonhos mais profundos. Mas os sonhos são entidades obscuras e comprometedoras, escavadas na terra do coração como as grutas onde morámos no breve tempo da adolescência, quando pecado e inocência se assemelhavam a centelhas de luz num mesmo diamante. «É apenas uma questão de tempo», dizemos, depois, quando o diamante de desfaz entre os nossos dedos e se transforma num feixe organizado de «questões» separadas. Ora, não há questões separadas; o tempo é a única questão, a nossa pele progressivamente enrugada - nem isto aprendemos ainda? Esticámos o tempo da vida para, aparentemente, vivermos menos - com uma paciência para com a crueldade que não tínhamos quando éramos menos sábios e, por conseguinte, mais cruéis.»

Inês Pedrosa (in Única - Expresso) - A inocência e o Pecado II

Tuesday, March 21, 2006

Da Julieta que não era Julieta e do Romeu que não era Romeu

«(Romeu) Apaixonara-se por Julieta como antes se apaixonara por outras, e como depois se apaixonaria ainda por objectos, coisas, acontecimentos.
Em Julieta foi diferente, as mulheres como os deuses: nunca se cansam do amor. Julieta caiu na armadilha e deixou-se ficar. Nela o amor não passou como um ataque mongol: mentimos no início. Mas ela foi atacada, sim; queimada, sim; massacrada; e saqueada. por fim, ele, Romeu, desapareceu. Amou-o depois à distância como se ama um duque, enquanto ele rapidamente a esqueceu em mulheres e outras batalhas.
(...)
Movido pelo ódio, embora não ainda totalmente dominado por ele, o imperador Conrado III, entrando na cidade de Baviera, consentiu em deixar fugir as mulheres. Apenas. Que elas saíssem da cidade a pé, foi a sua imposição; e que levassem só o que pudessem carregar com os braços. Tudo o que ficasse para trás seria arrasado pelo fogo (essa a sua vingança): inluindo os homens; incluindo Romeu.
(...)
Montaigne esqueceu-se (não terá visto): quando Romeu, o cruel duque da Baviera, se viu deixado para trás, abandonado por todas as mulheres que ao longo da vida abandonara, teve um instante em que de tudo se arrependeu como acontece a todos os que se vêem frente à morte. De imediato, no entanto, foi surpreendido pela terra, pelas mulheres. Uma mão feminina com rugas: era Julieta. Como nele, trinta anos nela haviam passado. Era agora velha, curvada, fraca. No entanto, carregou-o às costas. Corajosa. Ainda apaixonada. »

Gonçalo M. Tavares, Histórias Falsas (2005)

Saibamos que é ridículo e que não há forma de salvar do incêndio quem provoca fogos à velocidade e calma com que respira; saibamos viver sem esta necessidade quase arquétipa de os proteger, permanecendo intactas à espera de um dia, passadas décadas, em que ele se digne a arrepender-se do seu caminho e da desimportância (uau, já pareço o mia couto a inventar palavras) das conquistas operadas. E talvez aí deixemos de ser "mães" na relação para sermos "mulheres".

Monday, March 20, 2006

The wrong button to push

Se ainda me queres vender
Se ainda me queres negociar
Isso já pouco me interessa
Perdemos o gozo de viver
Eu a obedecer e tu a mandar
Os dois na mesma triste peça
Os dois à espera do fim
Só à espera do fim !!!

Jorge Palma (1982)

Chamam-lhe "relação aberta", quando tentam formatar interiormente o que são os dois. Se são dois, ou se se limitam a ser 1+1. Um somatório parcial a maior parte das vezes, um exercício de conexão instrumental, para colmatar o hoje e o agora, o amanhã logo se verá.

Nunca escondeu que quando se tira 1 ao 2, fica 1. Nunca mentiu nem escondeu: que estavam os 2 numa triste peça à espera do fim, em que outro 1 faria realmente 2.

Fim de jogo.

Thursday, March 16, 2006

Morreste-me

«No quarto, numa cama qualquer que não a tua, o teu corpo, pai. Talvez distante, preso num olhar entreaberto e amarelado, respiravas ofegante. O ar com que lutavas, lutavas sempre, gritava o seu caminho rouco. Pelo nariz, entrava o tubo que te sustinha. Aos pés da cama, a minha mãe calada, viúva de tudo. À cabeceira, a minha irmã, eu. Cortinas de plástico, biombos de banheira separavam-nos das outras camas. Pousei-te as mãos nos ombros fracos. Toda a força te esmorecera nos braços, na pele ainda pele viva. E menti-te. Disse aquilo em que não acreditava. Ao olhar amarelo, ofegante, disse que tudo serias e seríamos de novo. E menti-te. Disse vamos voltar para casa, pai; vamos que eu guio a carrinha, pai; só enquanto não puder, pai; vá, agora está fraco mas depois, pai, depois, pai. Menti-te. E tu, sincero, a dizeres apenas um olhar suplicante, um olhar para eu nunca mais esquecer. Pai. À hora, mandaram-nos sair. Quando saímos, agarrados como naúfragos, a luz abundante bebia-nos. (...)
Entrei em casa. Apenas a lareira fria, as janelas fechadas a moldarem sombras finas no escuro. Do silêncio, da penumbra, um crescer de espectros, memórias? não, vultos que se recusavam a ser memórias, ou talvez uma mistura de carne e luz ou sombra. E vi-te pensei-te lembrei-te, à mesa, sentado no teu lugar. »

José Luís Peixoto, "Morreste-me"

O "Morreste-me" de José Luis Peixoto será provavelmente o presente que mais vezes ofereci. Porque acredito realmente que o mais difícil da nossa existência é lidar com a perda: real ou simbólica, de nós ou dos outros. Já dei este livro a quem achei, na minha etérea presunção, que precisava de ter um pouco de morte na sua vida; já dei este livro a quem achei, num assomo de paternalismo, que não valorizava quem tem na sua vida; já dei este livro a quem achei, por estupidez ou crueldade pura, que precisava de saber o que é estar do outro lado da perda.
Chamam-lhe luto.

Hoje celebro a sua vida, tia. O impacto da sua morte vai para além daquilo que poderia supor. Para além de todas as lutas e todas as negações.

Hoje não queria lembrar-me disto, tia. Mas lembro-me do minuto após a luta final, em que me deixei ficar no quarto consigo, olhando à volta do quarto estirilizado e de baixa luz pelos estores fechados em sinal de respeito. Em que senti que o sofrimento tinha terminado. Que a sua paz tinha chegado, mas que a nossa dor havia só começado. O corpo, desenhado a traços grotescos provocados pela deterioração da porcaria frágil deste invólucro que valorizamos tanto, era só um decalque. Um decalque de uma vida à sua maneira, em que a solidão era um ícone de prestígio, para culminar num final trágico - não a morte em si, mas o processo.

Hoje não queria lembrar-me disto, tia. Mas lembro-me do que foi chegar a sua casa. Onde estava o que era seu e já não o era. Onde jurava poder vê-la a caminhar pelos corredores, mas afinal já não era.

Penso muitas vezes se isto não foi um aviso que a vida me deu. Acho que há pessoas que nos morrem, no sentido literal ou figurado, para nos darem vida. Ainda não descobri se é este o caso, talvez só o saberei quando conseguir ver o filme todo.

Hoje queria lembrar-me de si viva, tia. É isso que queremos celebrar hoje, seja bebendo um copo de vinho tinto ou levantando a cabeça, em vez de a baixarmos, quando as lágrimas caem.

Wednesday, March 15, 2006

"Meus passos, em ti eu acabo, teu fado é meu fado - tenta parar" (*)



«Todo o amor do mundo não foi suficiente

todo o amor do mundo não foi suficiente porque o amor não serve de nada. ficaram só os papéis e a tristeza, ficou só a amargura e a cinza dos cigarros e da morte.os domingos e as noites que passámos a fazer planos não foram suficientes e foram demasiados porque hoje são como sangue no teu rosto, são como lágrimas. sei que nos amámos muito e um dia, quando já não te encontrar em cada instante, em cada hora,não irei negar isso. não irei negar nunca que te amei. nem mesmo quando estiver deitado,nu, sobre os lençóis de outra e ela me obrigar a dizer que a amo antes de a foder.»

José Luís Peixoto, A Criança em Ruínas

(*) Toranja - Cenário (Esquissos, 2004)

Tuesday, March 14, 2006

"And all my friends said I was high"

Admito a dislexia emocional. É que já não me lembro porque é que acredito no que estou a fazer. Se é o lado direito do cérebro que manda, acusa-me de me vender e prostituir à loucura da normalidade, das taxas de juro, das aplicações financeiras, dos seguros de saúde e das contas para pagar. Se é o lado esquerdo que manda, e que me comanda quando pesquiso tarifas aéreas e enceno cenários de corte de amarras, diz-me que nunca seria plena nessa vontade, que o acusaria sempre do que me falta.

Todos os dias procuro legitimar uma escolha. Não a minha, vim a descobrir, mas uma escolha ainda assim. Vasculhas e vasculhas e nunca serás nada para além do que já uma vez foste.

Se não há concreto no abstracto, não podes viver de abstracto. Siga-se para o concreto. Poderia aceitar toda a crítica, fundamentada ou por fundamentar, fiável ou infalível, contemplativa ou destrutiva. But not yours.

To jgddcj...

por me tornar evidente que "eles" andam aí.

Eis porquê.

Monday, March 13, 2006

Flavour of the weekend #1

«Você precisa saber da piscina
da Margarina,
da Carolina,
da gasolina
você precisa saber de mim
baby, baby
eu seu que é assim...»

"Baby" - Gal Costa & Caetano Veloso

Até às 19h no ATL. Afinal não. Telefona ao amigo cuja irmã também lá está. Aprende a pedir favores. Um sorriso do tamanho do mundo que deixa bem longe a impossibilidade de uma noite bem passada à la single. Sem um pingo de arrependimento. As mochilas, os cadernos, a documentação do seguro, não te esqueças que tens pediatra no HPB até à meia noite todos os dias. O delírio com os cães. Banho com gel hipoalergénico. A hora do jantar, peixinho com todos os nutrientes, que ele engole enquanto conta as cusquices da escola. Dominó e jogo do galo, conta as últimas dos Morangos.

Dia seguinte. Quanto ficou o Porto?. O Sporting não presta, pois não? Escolhe a roupa, mas este miúdo tem um sentido estético! Pequeno almoço, cereais com leite. Só depois me lembrei que não tinha tomado pequeno-almoço. É a minha parte do dia favorita, sabes? Dar a ração aos cães, trocar a água, porque eles não podem ficar doentes, pois não? Pois não. Vai passear um deles enquanto eu ajeito o carro para levar ao doutor. Tem jeito para aquilo. E jeito para animais. Rebola, suja-se, magoa-se, e nada. Porque é que há gente que não gosta de cães? Não sei. Não sei mesmo.

Fazem-se 150 km ao som de Madonna, que ele vai cantando como se falasse inglês há 5 anos. Para-se numa estação de serviço para tomar café, e o seu correspondente são as barras de cereais. E sem fitas, o que me dá um gozo enorme.

O resto foi parque, patins (um joelho e uma mão inchada para servir de comprovativo), desenhos, levantar a mesa, arrumar a cozinha, ensinar a fazer a cama, a dobrar roupa e a pôr na máquina a suja, pôr gel no cabelo. E um abraço volta e meia quando diz: adoro cá estar.

É inexplicável este sentido de hipervigilância quando se tem uma criança à responsabilidade. A preocupação com os detalhes prementes que usualmente se coloca em 2º plano (se não almoças, tranquilo; se não fazes isto à horinha, fazes mais tarde and so on), obriga a ser concreto, focalizar e deixar as angústias intangíveis de lado.

E, cá dentro, faz sentido. Não preciso do parto para nada, amar é educar e fico plenamente feliz só com a adopção. Lamentavelmente, nunca encontrei homem algum que não quisesse pelo menos um "seu". Acho isto extraordinário. Deve ser pela mesma razão que o último neanderthal morreu na zona centro de Portugal. Deve ter deixado descendência.

Friday, March 10, 2006

"Washing blood off your hands" (João Amaral - In Memoriam)


João Amaral é, no meu período de formação cívica e política, mais do que UM exemplo do que é um parlamentarista. É O exemplo. Na forma como construiu a sua vida política, o meu paradigma pessoal do que é um político sério, com dotes de oralidade e de combate político só ao alcance dos predestinados.

É, também para mim, o exemplo concreto de que não chega ser-se impoluto e incorrompível. Não chega ser-se claro e cristalino nas ideias e na forma de exercer cidadania, porque quando se caminha em matilha, há sempre o perigo de colocarem em causa a nossa sobrevivência. Porque, no caso de João Amaral, e no caso concreto do PCP, a máquina partidária soube tentar triturar, sufocar e asfixiar qualquer tentativa de regeneração. Tentando, como é tão habitual na vidinha político-partidária, contaminar a sua imagem. Imagem essa impoluta. E que assim permanece, contra os seres rastejantes que nunca o souberam olhar nos olhos.

O livro "João Amaral - In Memoriam" não é o discursozinho da praxe, da ascenção beatificada de quem já faleceu. Já antes se ouvia o quanto João Amaral era reconhecido por "fazer política de forma inteligente e por convicção, a sua absoluta integridade e incorruptibilidade, que só podem merecer a evocação, a homenagem e o tributo de todos os democratas» (Telmo Correia, CDS-PP) ou por ser "um dos príncipes da nossa Democracia" (Artur Santos Silva, Presidente do BPI).

A nossa democracia muito deve a João Amaral. E tão estranho foi tê-lo visto sair pela porta do fundo de um partido que não quis ou não soube regenerar-se a tempo de deixar João Amaral mostrar o caminho. Porque, como ele disse: «nenhum projecto, por mais sedutor que pareça, merece ou justifica o sacrifício dos valores da cidadania».

Thursday, March 09, 2006

"Why'd your best friend drop a dime" (Retalhos da vida de...#2)

- Pro em raides existenciais, em que se navega em morada de amigo em morada de amigo à procura de algo que nem sequer sabemos muito bem o que é, mas que se sente no conforto de uma conversa na cozinha, entre as máquinas de roupa e o fazer do jantar. Ficas para jantar? Não. Explicar não é fácil, mas apreende-se no sorriso com que se faz omitir uma resposta. Fica o meu abraço sentido, murmurando um obrigada desnecessário que me liga à próxima paragem do raide existencial.

- Também eu festejo os meus 30 anos hoje. 22 deles contigo ao lado. Sei que serás talvez quem me acompanhe até ao fim dos meus dias. Oxalá consigas compreender a mensagem que a vida te tenta transmitir: 30 anos e olha à tua volta. Por favor, olha à tua volta. É isso que queres ser?
De qualquer modo, lá estarei. Onde tu estiveres.

Wednesday, March 08, 2006

"Look at your young men dying" (Syriana ou Pax Syriana)

Não existindo confirmações oficiais do porquê do nome deste filme, há quem diga que Syriana é uma síntese do termo Pax Syriana, referindo-se ao pacto político de paz e cooperação entre os Estados Unidos e a Síria. Ora, é a exploração das dimensões associadas a este pacto (já abordadas por Michael Moore em Fahrenheit 9/11) e as suas implicações geo-políticas que constituem o veio principal deste filme.

Do ponto de vista do casting, talvez fosse difícil ser mais rico: George Clooney (uma visão assustadora deste homem com mais 20 kilos em cima e uma barba muito pouco interessante, que lhe mascara o sorriso fatale), Matt Damon, William Hurt e Christopher Plummer corporizam personagens ricas e realistas, evitando a lógica dicotómica dos bons vs. maus (como seria fácil transformar a personagem de Damon, Bryan Woodman - um consultor energético - num combatente do mundo após a perda do filho, optando antes por prostitui-lo aos interesses relacionados com o petróleo).

Há muito para se dizer acerca das reflexões deste filme, mas ficam aqui as 2 que mais me martelaram a cabecinha:

1) a descida do preço do barril de petróleo não interessa mesmo a ninguém, a não ser ao cidadão comum - aquele que tem menos poder neste jogo de influências;

2) muito se fala da evangelização de crianças e jovens muçulmanos, incitando-os à jihad e ao combate dos infieis, fazendo-se explodir em atentados bombistas. Na realidade, é muito simples. Limitam-se a aproveitar o estado de miséria em que esta gente vive, criando terreno fértil para a repetição de ideias como "não é possível a separação entre estado e religião", alimentando facilmente ódios contra "O Ocidente". Agora, até que ponto é que isto é muito diferente do recrutamento que é feito nos Estados Unidos para a carreira militar? Os rapazinhos que dão a vida no Iraque e no Afeganistão são, geralmente, provenientes de bairros em que as perspectivas de vida são: junta-te a um gang e morre novo de uzi na mão numa rixa entre gangs ou junta-te aos militares. Bottom-line: "os muçulmanos", esses bárbaros, usam a mesma estratégia que "os ocidentais", esses detentores dos valores morais e da urbanidade.

E, por fim, uma citação do filme que explica bem a causa das coisas:

"Corruption charges. Corruption? Corruption ain't nothing more than government intrusion into market efficiencies in the form of regulation. That's Milton Friedman. He got a goddamn Nobel Prize. We have laws against it precisely so we can get away with it. Corruption is our protection. Corruption is what keeps us safe and warm. (...) Corruption... is why we win."

Tuesday, March 07, 2006

The only thing you lack...is me #5

Inspirada pelas conversas oscarianas do quem estava com quem, quem vestiu o quê, discursos mid-western (i'd like to thank my grandmother...how tacky!) e o tamanho dos brincos (não esquecer o "pormaior" do vestido de Sandra Bullock ter bolsos!), volto à onda girls will be girls deste blog, recuperando a categoria prémio fiona-bacana-for-men:

And the oscar goes to:

Matthew Fox (assim mesmo, com dois "tt", Hollywood oblige). Muito antes de "Lost", este senhor (hoje com 42 anos) já me encantava em "Party of Five". Não um brilhante actor, é um facto; mas enche um ecrã ainda assim.

Monday, March 06, 2006

"If love is blind i guess i'll buy myself a cain" (Life lessons from Els Encants#2)

São modernas. De pêlo na venta, passam férias com as amigas e têm noites de gajas. Tomam a pílula desde os 15 anos. Vários namorados, não coleccionáveis, muitos ficaram pelo caminho com o mesmo argumento: “era muito dependente”. Ou porque faziam cenas de ciúmes aborrecidíssimas. Ou porque ousaram interferir nas amizades escolhidas, sobretudo com o amigo homem de longa data que, segundo teoria conspirativa do parceiro, deixa olhares lânguidos a cada parte do corpo mais descoberta. Têm o discurso do “as mulheres apanham porrada porque querem” e terminam a certeza universal com um “havia de ser comigo…” resolutivo.

Mas todas as certezas têm um fim, e o dia chega em que começam a aceitar mais do que a conta. Não são assim tão resolutivas, aceitam abusos e faltas de respeito. Continuam, ainda assim, a debitar frases feitas de woman power à velocidade das conversas entre pares do mesmo género. O agora, entretanto, é feito com um sublinhar de um mimetizar contido, de angústia espartilhada .

E começam a ser inconsistentes. A aceitar mais do que pensavam. Cada vez que o fazem, lembram-se das certezas anteriores e nada fica para além de um sabor muito estranho, o saber – e o viver – da ambiguidade, da ambivalência, do quero mas não posso, do posso mas não quero.

Na mesinha de cabeceira coexistem nomes de mulheres sonantes que ousaram cortar com o que o mundo queria delas. Ser “boa esposa”, “boa mãe”, e o tanto mais logo se verá.

E estas figuras, iconizadas a preto e branco como convém às referências históricas, vêm à cabeça cada vez que dão por si a ceder. A ver morrer todos os pedaços, entretanto bem escacados, de integridade. Por causa deles. Dos príncipes das trevas.

Sabem, no canto da alma, que não há solução à vista. Por isso perduram, mantêm-se naquele formato de relação condenado – sabem bem – à destruição. E suspiram e temem simultaneamente pelo dia em que, como dantes, faziam o que diziam e diziam o que faziam.

Entretanto, entoam…

«Preventing me from freedom
Maintaining your pollutionI
won't support your lie no more
I won't even try no more
If I have to die, oh Lord
That's how I choose to live

I won't be compromised no more
I can't be victimised no more
I just don't sympathize no more
Cuz now I understand
You just wanna use me
You say "love" then abuse me
You never thought you'd loose me
But how quickly we forget
That nothing is for certain
You thought I'd stay here hurting
Your guilt trip's just not working
Repressing me to death

Cuz now I'm choosing life I take the sacrifice
If everything must go, then go
That's how I choose to live…»

Lauryn Hill, "I get out" (MTV Unplugged)

Friday, March 03, 2006

"So fine" #2 (Tipo Drumming...mas em bom!)


Kodo, Coliseu Porto, 18 Março 2006

A minha visceral tendência percussionista ganha vida própria com espectáculos como estes.
A alma oriental com ritmos de percussão, combinação selvática que faz bater as mãos nos joelhos.
Será que posso levar as minhas baquetas?
Para quem não conhece, é tipo Drumming...mas em bom!

Thursday, March 02, 2006

"Estranged" (Life fessons from Els Encants) #1

O bom, entre outras coisas, da música (e da sua democratização com os gravadores de cd's, dvd's, da internet banda larga e dos "e-mules" desta vida) é a possibilidade de darmos música como souvenirs emocionais. Há anos que me dou a esta prática, como uma espécie de mecanismo compensatório pela densidade de que acusam sustentadamente.

E depois há aqueles que retribuem e nos mimam com estes presentes existenciais.

E a sincronicidade temporal com viagens faz com que sejam "a banda sonora daquela viagem". Foi o caso do MTV Unplugged de Lauryn Hill.


Nos intermináveis interludes, há o princípio de vida. Postura perante a vida. Gosto particularmente da parte que diz qualquer coisa como if they think you're crazy they don't mess with you. É-me vagamente familiar.

Há um espírito de não diria glorificação, mas contemplação do erro. Lauryn engana-se várias vezes, erra tons, em algumas partes a voz não parece muito diferente da minha às 7 da manhã. E assume-o. Princípio perante a vida, novamente. I'm a mess, diz ela outra vez. Ou I used to dress up for you all, I don't do that no more, I'm sorry.

E de repente, no flea market de Els Encants,

embalada no exercício sinistro da paragem de pensamento, vem isto

«I gotta find peace of mind, I gotta find peace of mind
He says it's impossible, but I know it's possible
He says there's no me without him, please help me forget about him
He takes all my energy, trapped in my memory
Constantly holding me, constantly holding me
(...)
All that I've known is gone, all I was building on
I don't wanna walk with you, how do I talk to you?
(...)
I gotta find peace of mind» (*)

E olhei à volta, perdida e imersa naquelas cores, no buzz das pessoas de um lado para outro, e resolvi brindar ao meu passado, às minhas tentativas, ensaios e erros; aos meus alicerces passados (e ainda presentes) porque não me deixaram tão mal assim; resolvi, sobretudo, brindar ao presente, ao hoje e ao por enquanto. E, como ouvi da boca de um puto de 10 anos que me deu uma lição de vida em directo: estou bem, estou vivo! (com a propriedade que só quem dá um pontapé na morte tem).

E ali, sentada no passeio - a luxury these days - encontrei um pequenino equilíbrio da tal paz de espírito. It comes and it goes. Paz de espírito essa, reflexo evidente da matriz das teorias pessoais: eternamente precárias, periclitantes e intrínseca e necessariamente recicláveis.

(*) Lauryn Hill - I gotta find peace of mind (MTV Unplugged)