Wednesday, November 30, 2005

Encanta-os!


E não vai ser difícil. Eles é que têm sorte em te ouvir, certo?

ps: o meu nome é fiona bacana e sou viciada no Google Earth. Culpa tua...

Inevitavelmente...Pessoa


«A certos momentos do dia recordo tudo isto e apavoro-me,
Penso em que é que me ficará desta vida aos bocados, deste auge,
Desta estrada às curvas, deste automóvel à beira da estrada, deste aviso,

Desta turbulência tranquila de sensações desencontradas,
Desta transfusão, desta insubsistência, desta convergência iriada,
Deste desassossego no fundo de todos os cálices
Desta angústia no fundo de todos os prazeres,
Desta saciedade antecipada na asa de todas as chávenas,
Deste jogo de cartas fastiento entre o Cabo da Boa Esperança e as Canárias.

Não sei se a vida é pouco ou de mais para mim.
Não sei se sinto de mais ou de menos, não sei
Se me falta escrúpulo espiritual, ponto-de-apoio na inteligência
Consanguinidade com o mistério das coisas, choque
Aos contactos, sangue sob golpes, estremeção aos ruídos,
Ou se há outra significação para isto mais cómoda e feliz.»

Álvaro de Campos - Passagem das Horas

Amigos de Quem

«Amigos são sombras do tempos
que enrolam o seu tempo à espera de ver
o que não existe...acontecer»

Amigos de Quem (Clã com Manel Cruz)

É triste. É a vida, mas é triste. Olho para trás e não deixo de ficar profundamente triste, desolada com a constatação do facto: qualquer pergunta que vá para além do "tudo bem?" retórico, é fonte de gargalhada como introdução para a desconversação orientada para dimensões com tanto de instrumental como de corriqueiro, sem valor nem qualquer vislumbre de pessoalização.

E, no entanto, talvez fosse previsível. Como todos os grandes amores (o que é a "amizade" senão uma forma de amor, só diferente na sua forma de expressão?), difícil é a sobrevivência para além da vida e do contexto que a originou.

Bem sei, houve tentativas de assassinato mútuas. Quando eu cair espero ao menos que olhes para trás. Não olhaste. Permaneceste nesse registo, máxima estilizada dos embutidos afectivos, esperando que a outra pessoa compreendesse que os actos falam mais alto que as palavras. E eu perdi o norte e o sul da minha vida de então, a minha ligação ao mundo dos sãos.

Entretanto a vida seguiu lá fora de alguma forma recomposta, mas nunca mais esqueci; geri distâncias e condicionantes, coloquei-te do lado de fora. Necessariamente.

E, portanto, não sou desonesta. Quando te digo (perdoa-me o acto de coragem de cortar o registo do politicamente correcto) que é triste, é porque é isso mesmo que sinto. O teu desconforto, o meu desconforto, soa-me vagamente familiar: a inaptidão, a inoperância que se sente quando vemos um fantasma do passado.

Não quero mudar nada - passe estes pequenos episódios, é-me mais confortável assim. Nem acho que queiras mudar nada. Há relações cuja permanência implicam custos emocionais por vezes incomportáveis, pela sua sequência passado-presente-futuro (?).

Continuo a desejar-te o melhor que a vida tem para te oferecer. Não preciso é de estar lá contigo para o ver.

E foi assim que a vida (não) seguiu lá fora.

Tuesday, November 29, 2005

«Leva no meu bombar, me leva...»


Maria Rita
Coliseu do Porto, 7/Janeiro/06

Haja quorum, lá estarei. Diferente de "Maria Rita", o álbum de estreia, "Segundo" é mais complexo, mais maduro e com evidentes sinais de crescimento. E de uma paz de espírito contagiante...

Da exploração ultrapsíquica

«Certamente não teria vivido alguns dos momentos mais interessantes da minha vida não fosse levada pelo álcool. Não sou, portanto, o que se poderia chamar de Madalena arrependida. Sei que foi enchendo a cara que travei contacto com muitos dos aspectos mais legais da minha personalidade. (...)
Tenho, inclusivamente, uma enorme vontade de conversar sobre isso (...) E, justamente, uma das poucas que já cumpri foi essa, a de pedir desculpas.»

Fernanda Young in Efeito Urano

É mesmo isso. Pedir desculpas pelo ultrapsíquico?!Naaaaaaaaa...

Do "Já agora"

«Há uma instituição poruguesa que é única no mundo inteiro. É o "Já Agora". Noutras culturas, tratar-se-ia de um pleonasmo. Na nossa, faz parte do pasmo.
O "Já Agora", e a variante popular "Já que estás com a mão na massa...", significam a forma particularmente portuguesa do desejo. Os portugueses, não gostam de dizer que querem as coisas. Entre nós, querer é considerado uma violência. Por isso, quando se chega a um café, diz-se que se queria uma bica e nunca que se quer uma bica. Se alguém oferece, também, uma aguardente, diz-se "Já Agora...". Tudo se passa no pretérito, no condicional, na coincidência.»

Miguel Esteves Cardoso in A Causa das Coisas

Monday, November 28, 2005

Flavour of the weekend

É difícil descrever o desespero que é estar em frente ao computador, com a necessidade premente de ser produtiva, e...nada. Salvou-se o surto intelectual na madrugada para aliviar a consciência.

É fácil, por outro lado, descrever o bem que sabe ajudar a minimizar um bocadinho as diferenças sociais e o respectivo acesso a oportunidades. Ainda bem que alimentamos esta ideia!

Friday, November 25, 2005

Do'Tal', dos 'Príncipes Encantados' e 'Príncipes das Trevas'

«It may be over but it won't stop there,

You touched my heart you touched my soul.
You changed my life and all my goals.
And love is blind and that I knew

when my heart was blinded by you.

I've seen you cry, I've seen you smile.
I've watched you sleeping for a while.

I know your fears and you know mine.
We've had our doubts but now we're fine,


I'm so, I'm so, I'm so hollow. »

James Blunt "Good-bye my lover"

Descobri que trago no carro algo de que, conscientemente, nunca me apercebi que tinha, apesar de estar ali mesmo à minha frente, um pouco abaixo da linha do cd. Até que ontem alguém perguntou. Qual colar?, perguntei desconcentradamente, pergunta como resposta a uma pergunta, as usual. Ah, esse...Não, não era meu. Mas andava no meu carro há mais de um ano, todos os dias, 365 deles pelo menos.

Há pessoas que nos ficam. Mais ainda, ficam-nos para sempre. Quando saem de cena, por muito que tenha sido planeado, compreendido, acordado e rasgado por 10 vezes e acordado novamente, confrontado, decidido…é só vazio que fica. É difícil ver a nossa extensão para além delas, porque nunca pensamos em nós sem as ter.

Mas a vida segue. E elas, teimosamente, ficam. Porque, inicialmente, não conseguimos lidar com a ideia de que já lá não estão - ou da forma como desejaríamos que elas lá estivessem - e boicotamos o processo de saída. Depois, de tanto fazerem parte de nós, ficam. E quanto mais dizemos adeus, mais elas ficam em nós.

Depois do episódio do colar, percebi que, mesmo que nunca esqueça (porque isso já aceitei… nem quereria de outra forma), vais ficar-me para sempre. Mesmo que lá não estejas. Até porque um vício (sempre e sempre e sempre isto…) controla-se, diminui-se o seu impacto; mas, sabe-se, está escrito: nunca, mas nunca mais, seremos os mesmos.

E a ti devo-te nunca mais ter sido a mesma. Nunca mais vi um verde, um cinza, um branco da mesma forma. Nunca mais atravessei a passadeira ou senti um traste de guitarra do mesmo modo. Aprendi a não ver um quadro de frente, já que há realidades que só podem ser vistas de forma enviesada. E tu és uma dessas.

Se vale a pena? Não sei. Só sei que enfiei a dor num saco de calma pacífica e resta-me ter o fair play para compreender. Para aceitar. Para isso, é preciso tempo. E embora não esteja disposta a desperdiçá-lo em tentativas imberbes, o medo de morrer sozinha começa a falar mais alto. Começa a incomodar-me sentir que estou, todos os dias, numa luta titânica para tentar disfarçar este sentimento de que se morresse hoje, não deixaria nada nem de mim nem de meu ao mundo.

Mas há algo que não passa, nem sei quando ou se passará: cada vez que te digo adeus, morro mais um bocadinho. E quanto mais digo adeus, mais ficas em mim. Pena é não podermos, como dizes entre uma piada e outra, começar a viver um amor pelo seu futuro.

Thursday, November 24, 2005

Porno what?

«- Não somos actores, somos intérpretes da pornografia - digo. Temos de definir os nossos...
- Não. Isso não passa de uma treta inventada pela classe média. São os únicos que não deram ainda pelo facto de que a porno já é de consumo geral. A Virgin vende filmes pornográficos. Greg Dark realiza vídeos da Britney Spears. Revistas porno e revistas para homens ou mulheres são iguaizinhas. Até a reprimida e censurada TV Britânica brinca com ela. As pessoas jovens enquanto consumidores já não fazem uma distinção entre porno ou entretenimento para adultos ou entretenimento geral. Da mesma forma como já não fazem entre álcool e outras drogas. Se te dá prazer, sim, se não, então não. É tão simples quanto isso. »

Irvine Welsh in Porno

Receando perder-me no que me levou a colocar este post, há algo que de repente começa a fazer muito sentido: um ar je-ne-sais-quoi-Champagne-meets-Moulin-Rouge na Britney Spears. Um toque de classe e uma mais valia que, claramente, só um realizador de filmes porno poderia trazer.

Frase do dia

Life is not the ammount of breaths you take, but the moments that take your breath away.
Sir Ozzoire, The Mith

Wednesday, November 23, 2005

Da aceitação incondicional

« - Sera - começa ele - espero que compreendas como é que eu vejo as coisas. Antes do mais, podes dispor do meu dinheiro. Podemos comprar um par de caixas de garrafas e tu ficas com o resto. Mas não acho que me estejas a falar do dinheiro. Penso que estás a falar de ti. Digo-te desde já que me apaixonei por ti, mas, mesmo assim, não estou cá para impor à tua alma a minha vida retorcida. Não estou aqui para exigir todas as tuas atenções, a ponto de te tirar à tua própria vida. Ambos sabemos que sou um bêbado. Isso faz parte desta realidade e tu não te importas. E também sabemos que tu és prostituta, por isso, se e quando quiseres trabalhar, seja por que motivo for, é contigo. Acho que não estou a deitar-me a adivinhar se disser que já andas nisso há muito tempo e que não te sentes mal. Por favor não penses que a minha aparente indiferença significa que não quero saber, porque quero. Significa simplesmente que confio em ti e aceito as tuas decisões, a tua vocação. O que eu quero dizer é que espero que compreendas que eu compreendo.
- Obrigada - diz ela. »

John O'Brien in Morrer em Las Vegas

Tuesday, November 22, 2005

Da perda

«Dizem que o tempo cura. É mentira. O tempo não cura nada, o tempo alivia a dor, consola-nos a alma, ensina-nos a tratar os afectos como pessoas crescidas. Uma espécie de anestesia fraquinha, que nos faz distrair de nós mesmos. Das nossas emoções e da força dos nossos sentidos. E depois vêm os entendidos, movidos pela urgência da cura. Trazem o diagnóstico numa mão e a receita na outra; chamam-lhe obsessão, fixação, paranóia, teimosia, e para que ela se instale há que declinar o verbo esquecer, em todos os tempos e modos, como se alguém assim estivesse realmente interessado em esquecer.»

Maria João Lopo de Carvalho
in Única - Expresso

Da segunda vez que morri, quando estava fora de causa o verbo esquecer, alguém me disse: prometo-te que o tempo vai ajudar;não te vai fazer esquecer, mas vai ajudar. Descrente, anuí simplesmente pela pessoa em causa. Mas assim aconteceu: nunca me esqueci do que foi a sensação de falta de controlo a cada minuto da minha vida naqueles longos e longos meses. Nunca me esqueci da sensação de abandono, do não ter raízes em lado algum e a necessidade de os construir, só para os poder destruir outra vez.

E, de facto, nunca mais me esqueci. Ressuscitei com uma arrogância constructivista a todos os títulos inovadora. Percebi o significado da máxima nietzchiana em todo o seu esplendor. Tomei por adquirido que o poder estava em mim. Em última análise, a salvação não está no outro: só em nós.

Days like these I don't know what to do with myself

«De sonhar estou farta e morta»
(Zap Canal, Três Tristes Tigres)

Há dias em que só consigo dizer I don't go to sleep to dream(*).
Que não tenho sonhos, tenho objectivos.
E esperar que isso me torne maior do que o que sou, numa espécie de reconversão maturacional donde sairei, certamente, mais apta para confrontar os tempos adversos que puxam para trás(**).


(*) Fiona Apple
(**) Toranja

Friday, November 18, 2005

Ai ele é isso?

Quarta feira à noite, num jantar a quatro, regado a Muralhas:

- Estás a partir do princípio que ainda há uma diferença entre esquerda e direita!
- Pois estou. Pode haver uma diferença entre o modo de pensar o mundo entre Esquerda e Direita, e essa diferença ser invisível numa matriz partidária.
- Desculpa, não percebi! (risos)
- (mais um gole de vinho) Se tentares ver o PS e o PSD como ícones de Esquerda e Direita respectivamente, é lógico que não vais ver puto de diferença.
- ...agora se isso é sintoma de alguma deslavagem ideológica ou meramente resultado da estratégia político-partidária, por causa do centrão, isso é outro assunto!
- Mas a questão não é essa! Pensa: olhas para o Ribeiro e Castro, e antes para o Paulo Portas, e compara com o discurso do Jerónimo Martins e do Francisco Louçã...as diferenças são evidentes!
- Mas então o que estás a dizer é que as diferenças ideológicas só se vêm nos extremos, é isso?
- Pá...é. Neste caso, é.
- E achas que é nos casos extremos que resultam as leis gerais?

Pronto. Depois aquilo descambou para coisas tão tangíveis como a bomba de gasolina onde a dita cuja é mais barata, as novas instalações da casa-mãe e os relatos do dia-a-dia.

Mas pelos vistos esta questão Esquerda vs.(?) Direita também incomoda outras pessoas. E quando vemos o Prof. António Borges e o Prof. Daniel Bessa a discutirem as formas como a Esquerda e a Direita vêm a Economia...só alimenta a minha posição pessoal sobre as ideologias políticas e a Economia.

"A" diferença entre Esquerda e Direita é que a última vê a Economia como um fim em si mesmo (maior PIB, menor défice, maior produtividade, eficácia, consumo privado que restabeleçam os índices de confiança); a Esquerda vê a Economia como um meio para atingir um fim: maiores regalias sociais, maior protecção aos direitos do trabalhador, maior protecção social do Estado.

Pronto, agora podem começar a chamarem-me de tolinha.

Thursday, November 17, 2005

A justiça tarda, mas não...falta?!

Declaração de Augusto Pinochet sobre os crimes de que é acusado: Deus me perdoará se cometi excessos, o que não acredito.

Ora, só isto, só estas palavrinhas articuladas, só esta linha de raciocínio, dizem-me (que felizmente não sou juíz, advogado ou jurado nem por razão alguma colocaria o meu nome numa decisão judicial) que o homem acaba de se assumir como um ditador. Perseguir, aniquilar, fazer desaparecer pessoas e famílias inteiras é algo que só se compadece e esclarece com um diálogo entre ele e Deus. Está acima da justiça dos homens, portanto. Como diria um sábio amigo meu, é daqueles que pensando na sua relação eu-outros diria: entre deus e mim descubra as diferenças.

Ao que parece, a estratégia dos advogados de Pinochet deixou de ter uma fuga em frente. Depois de finalmente ter-lhe sido retirada a imunidade a que têm direito todos os ex-Chefes de Estado do Chile, chegou-se à conclusão que:

1) Pinochet, numa avaliação de peritos para aferir da sua saúde física e mental (a grande linha argumentativa dos seus brilhantes advogados), em todos os exames a que se submeteu (...), houve uma simulação da sua parte para fazer parecer mais graves os sintomas da doença neurológica que o afecta;

2) Com a excepção do perito indicado pela defesa de Pinochet, todos foram da opinião que o homem não tem qualquer sintoma psicopatológico que configure uma perturbação de foro psicológico;

Seria natural, então, que Pinochet fosse finalmente a Tribunal pelas acusações de violação de direitos humanos. Pois. Seria natural, não se tivesse ele salvo de duas outras acusações, em tudo semelhantes a esta, desse mesmo Tribunal por razões relacionadas com os tópicos anteriores e que, agora, se comprovam desfazados.

Espero. Espero ansiosamente.

Wednesday, November 16, 2005

Deus na Terra

dEUS desce à Terra, mais concretamente a Lisboa (4 e 5 Dezembro, Aula Magna) e ao Porto (6 Dezembro, Casa da Música). O que a Bélgica tem de melhor (juntamente com os K's Choice), vem apresentar o álbum Pocket Revolution.

E já começo a entoar: you're probably right, seen from your side, that I have been lucky...

Ai, os estudantes universitários coiso e tal - Parte I

Afinal os estudantes universitários, nomeadamente os dirigentes associativos, não são só uma cambada amorfa de gente passiva, sem interesse(s) e acéfala.

Perdoem-me a falta de modéstia, mas esta é a razão pela qual somos diferentes na psychélândia(nem melhores, nem piores, só... diferentes): aqui.

E, saliente-se a pergunta: O que é que realmente separa o homem da besta?

Tuesday, November 15, 2005

A gestão da incerteza

«This tendency to blame oneself for the world's ills is itself a strategy for mastering uncertainty. To change one's own behavior, to learn to fit in better, is less daunting and more immediatly practical than to reform the structure of social relationships: and to mistrust onself is less frightening than to see clearly how dangerously unstrustworthy the societies we inhabit may be. »

Peter Marris, The politics of uncertainty - Attachment in private and public life

Gerir a incerteza será, provavelmente, uma das tarefas existenciais mais complexas, mais dolorosas, mais dispendiosas do ser humano. Para os factos consumados, há o tempo, há o processo de transformação da dor (e não eliminação, a dor não passa, só se transforma...), há o confronto com aquilo que não podemos mudar e o conforto esperançado de que, podemos, no entanto, mudar a forma como vimos esse mesmo (f)acto consumado - e esse poder está, inequivocamente, em nós.

Mas o problema é gerir incertezas, zonas cinzentas, o ter de conceber assumpções. E aí a única forma é: ensaio, erro, ensaio, erro, ensaio, erro.

Retalhos da vida de...#3

Fnac Sta Catarina, na caixa para pagar dois livros. "As intermitências da Morte" (Saramago) e "Vítor Baía: a autobiografia".

Caixa: São os dois para pagar junto ou em separado?
Cliente: Desculpe, não percebi...(olhar atónito)...são juntos, juntos.
Caixa: E algum deles é para prenda? Se quiser embrulhar tem de ir ali àquela entrada, tá a ver?
Cliente: Não, não são prendas...(à beira de um surto kafkiano)...são ambos para mim.
Caixa: Ah, boooom (assim mesmo, com aquele ar de agora sim estou a perceber).

Pronto. Vivemos num país onde já não é socialmente possível, coerente, consistente, ler Saramago e querer conhecer melhor o mito. Não é possível ler um Nobel e um dos melhores guarda-redes de todos os tempos (sim, um futebolista, um futeboleiro, um jogador da bola).
E até os caixas da Fnac se dão ao luxo de censurarem essa postura eclética na leitura. Mais dia menos dia, uma pessoa que goste de nouvelle cuisine não pode comer caldo verde.

Saturday, November 12, 2005

«For what it's worth, it was worth all the while» (Dos Parabéns...)

«Sente o frio da janela e nao te agasalhes. Sente o teu corpo a gelar, enquanto o sangue corre rapido e roido nas veias. Encara o frio de frente, porque so assim te livras de consolos. para que compreendas o que fizeste à minha vida: deixaste-me a merce do frio, sem vontade nenhuma a nao ser de queimar a tua roupa para que sintas o mesmo frio que ey (sic).»

Percebi então que não há mãos que segurem o teu tempo em mim - porque, dizemos nós, o nosso tempo terminou. E não há mãos que nos agarrem nem amparem, porque a nossa queda só agora começou.

E sim, o meu amor por ti não é justo, porque não sei amar de forma justa. Não sei o que é o equilíbrio, porque não sei amar de forma condicionada. Só me entendo, e reconheço, nas descidas do céu ao inferno e regresso. Nos beijos trocados em violência, no odeio-te em forma de amo-te. Ou, para simplificar: odeio a forma como te amo. Mas é assim que te amo, desta forma tão injusta; tão injusta ao ponto de te dizer que, para mim, não é clara a diferença entre amar e amar-te. O que sinto por ti não é justo porque foi feito à tua medida, e talvez não saiba amar de outra forma. Porque, tenho vindo a recear, só sei amar-te. A ti.

Inundei-te a vida, eu sei. Catástrofe natural. Um tsunami afectivo, um amor na corda bamba. Dos destroços, nem eu nem tu sabemos se recuperaremos um dia. Ter-te nos meus olhos foi o melhor que a vida me deu. Ter as tuas mãos, finas como lâminas, a secarem-me as lágrimas foi o vício que nos matou aos dois. Não foi o teu vício, nem o meu. Foi o vício da vertigem da emoção, a aversão à estagnação, a paralisia ante uma planície.

Resta-nos aceitar, dizem os manuais, a derrota de ambos. Que não somos viáveis. Que a violência com que nos amamos não nos deixa passar incólumes ou impunes. Resta-me aceitar a ausência de ti em mim, procurando saber o que resta de mim para além de ti. Até agora, resta pouco; pouco para além do olhar turvado e diluído quando olho para Oeste.

Não me prendo aos 'ses', porque se tivesse escutado os 'porquês', não estaria aqui assim, de mãos atadas e braços vencidos pela necessária aceitação de que o fim está aqui. Que amar implica morrer e é isso que temos de fazer.

Friday, November 11, 2005

Filhos de ninguém


Vejo, nas caras das pessoas que olham a TV e lêem os jornais onde os incidentes em França (vamos utilizar uma expressão minimalista só para irmos mais directo ao assunto), um certo ar de espanto. Como se não fosse previsível. Como se os subúrbios das grandes cidades europeias não fossem barris de pólvora há mais de 10/15 anos. É o que dá fazer turismo no eixo Sena -Torre Eiffel ou Belgravia - Westminster.
Esse ar de espanto recorda-me um outro ar de espanto muito semelhante na forma (mas, evidentemente, diferente no conteúdo): 11/Set/2001. Desde quando "os árabes" (para enfatizar as generalizações abusivas da época) nos odeiam ao ponto de nos matarem em massa?

Não sabem? Pois é, às vezes o inconsciente colectivo tem memória curta. Dos nossos arquétipos, ficam as imagens dos cruzados como gente brava pela luta da cristandade. Mas, às portas de Jerusalém, no ano de 1090, foram os responsáveis pela primeira grande barbárie religiosa (sim, porque os cruzados, embora na sua maioria franceses e ingleses, termos actuais evidentemente, eram mandados pelo Papa Urbano II). Invadiram Jerusalém, mataram 20 mil muçulmanos. Aí reside, numa história de mais de 1000 anos, o problema israel-palestiniano. Todos acham que são donos da Terra Santa.

O que é que isto tem a ver com os incidentes em Paris (para ser minimalista novamente)? Vejo toda a gente com um ar de muito espanto. Não conseguem perceber as raízes históricas deste problema. Para mim, que até nem sou particularmente maniqueísta, a Europa está a ter o que merece. O irónico é que a Pátria com raízes mais republicanas e sólidas é a primeira a pagar o preço. Não quiseram, como qualquer governo europeu, fazer ABSOLUTAMENTE NADA em relação aos emigrantes de 2ª geração, nomeadamente magrebinos. Distantes das referências dos pais, mas num país que não é o deles. Atenção: não me venham dizer que faço parte daquela esquerda chic (pá, pronto, até faço se lá estiver o Jacinto Lucas Pires...) que acha que eles são uns coitadinhos e não têm culpa de nada. Não são, porque não souberam direccionar a sua raiva. Como ouvi há uns dias, os carros que eles queimam não são os das pessoas responsáveis por esta situação. São dos vizinhos de bairro que escolheram ter na educação e no trabalho uma forma de sair daqueles ghettos do inferno.

Paris e Bruxelas. A minha aposta seguinte? Zurique. E, sim, um dia, Lisboa. Mais próximo do que o que se pensa.

Thursday, November 10, 2005

Da Admiração

A dependência da admiração, isto é, o sermos admirados, parece prometer a «força» desejada. O homem quer ser admirado pela sua «força». E a esse estado do ser admirado chama-se amor, embora ele tenda mais a asfixiar o amor autêntico. A maior parte das vezes não é essa a intenção consciente, mas isso não altera em nada os resultados.

Se quisermos ser amados por conquitas e actos heróicos, cuja realização se deve ao medo, ao medo de sermos fracos na realidade, desprezamo-nos a nós próprios e, em suplemento, todos os que nos «amam» por isso. Assim exigimos mais e mais admiração porque só desse modo é que não temos de reparar nas nossas próprias dúvidas e nos sentimos amados. Mas o verdadeiro amor que todos nós desejamos escapa-nos por entre os dedos. E o mesmo acontece à intimidade, àquela proximidade que necessitamos mas que tememos porque exige sinceridade e autenticidade. Sendo cativos ad metirosidade da metafísica «masculina», alguns homens nunca conseguem encontrar-se, também, a si próprios num encontro íntimo. (...)

Como pode um homem (ou uma mulher) ser admirado por algo que, afinal de contas, se baseia em ele ou ela enganar-se a si próprio(a)? Enquanto haja por detrás disso um medo do desamparo que a pessoa não possa admitir a si própria, o admirador tem de escamotear o seu próprio desamparo. Assim ele perde-se a si próprio. O que resta talvez seja calculismo e manipulação. Mas isso são falsidades contrárias ao amor, por muito sucesso que tenhamos com elas!

Arno Gruen in A Traição do Eu

Tempos de Indulgência

Ontem jantei sumo de tomate (with tabasco, obviously), tostas e queijo roquefort. Acendi velas aromáticas, deixei Will & Grace para trás, apaguei as luzes. Sentei-me no chão e deixei que o último cd de Maria Rita invadisse os corredores, o quarto e a sala.

Depois lembrei-me de com quem aprendi a ter estes momentos de indulgência. Está casada e tem dois filhos. Já não pinta e, segundo me disse da última vez que estivemos juntas, um livro dura-lhe meses. Nunca lhe perguntei se ela, mestre em indulgência e na arte do lazer, tinha saudades disto. Nunca tive coragem.

Monday, November 07, 2005

Às paredes confesso

Que desde que vi Last Days, Nirvana não saiu do leitor de cd's do meu carro.

Things have never been so swell,
I have never felt this well...

Nirvana, You Know you're Right (ou a "última" música escrita por Kurt Cobain)

Expresso da Meia Noite - Os Mandatários

Poderia chamar-lhe THE MISFITS. Mas isso seria um insulto, quer para Gable, Marylin & Miller, quer para a banda punk dos anos 70, que fazia do CBGB o seu palco para a emissão de 4 acordes diferentes, esgotando a possibilidade de diferentes sequências em músicas de 3 minutos (se tanto!).

Falo do debate (expressão abusiva, claramente) que reuniu os mandatários da Juventude dos candidatos presidenciais (com a excepção da excelsa Cátia Guerreiro, mandatária de Cavaco Silva que "não participa em debates" - o que só lhe fica bem, porque é coerente com a postura autista tão inerente ao seu candidato).

Então o que vi:

1 - Pacman - mandatário da candidatura presidencial de Manuel Alegre. (by the way, nunca fui fã de Da Weasel e a única música que ouço é "Casa", porque tem a letra e a voz do meu manel cruz). Mas para o caso isso não interessa nada. Pacman não sabe falar, não articula ideias, basicamente parecia que tinha fumado coisa boa e não percebia as perguntas do Ricardo Costa. Há quem fume coisa boa e fique inspirado. Pacman, filho, faz-me um favor, amorzito, fazes? NÃO FALES MAIS, xim?!Até fiquei com vergonha de dizer, nesse mesmo dia de madrugada, que vou votar Manuel Alegre.

2 - Um coitado do PCP que foi lá fazer o favor de comparecer e picar o ponto, porque, ao que parece, o PCP não tem mandatário, o que não é necessariamente mau (aliás, pela amostra, até foi muito boa ideia!). Um ratinho de biblioteca que parecia não ter a mínima pachorra para lá estar (o que eu compreendo). Quando ia começar a falar sobre qualquer coisa mais interessante (por exemplo, a mudança nos candidatos do PCP, agora o secretário-geral do Partido já é candidato presidencial, o que é uma mudança), respirava fundo e ficava com aquela cara de "porque é que eu tenho a sensação de que vou falar para o boneco?" e calava-se. Ora isso foi realmente uma pena, porque pelas amostras que eu vi do Festa do Avante, poderiam ter arranjado alguém bem mais inspirado(r). Tipo Jacinto Lucas Pires?

3 - Miguel Guedes, aka, imitador profissional de Eddie Vedder (e olhem que eu até gosto de Blind Zero, entre as 6 e as 7 da manhã das 4ªs feiras em que estou a dormir), jurista (?!, so what, também há muitos caixas do feira nova que o são), cronista do Público, comentador desportivo, e, ainda, carpinteiro nas horas vagas. Foi o menos mau: 1) foi esperto, nem sequer saiu do Porto para não se incomodar; 2) deu uma tareia no Tal e Qual; 3) tentou explicar porque apoiava Louçã...sem sucesso. Interessante só uma afirmação: estou na política como acto de cidadania.

4 - Joana Amaral Dias. Já lhe chamaram de tudo: barbie, básica, and so on. Para ir defender Soares, filha, mais valia teres ficado a estudar os processos psicológicos associados à solidão (patrocínio da FCT, sempre perto de si). Toda a gente sabe o que Soares, pensa, é verdade - MAS ISSO É PORQUE O HOMEM FAZ QUESTÃO DE NÃO SE CALAR; não saber o que Cavaco pensa, ao invés, mas pela mesma razão, é uma dádiva. Ou pode ser.
Fiquei com a ideia de que a moçinha seria bem mais produtiva se não tivesse o tipo do PCP sentado ao lado dela a hiperventilar, babando. É incomodativo, pá. Então para uma psicóloga...

Em suma, mandatários da juventude para quê?!

Friday, November 04, 2005

Pic of the day


Quando os dias ficam curtos, chuvosos, escuros. Lembro-me.

Retalhos da vida de...#2

«- O meu amigo delirou contigo! Achou-te de um sentido de humor estonteante e uma inteligência superior, muito à frente.
- O teu amigo devia estar com os copos!
- Primeiro achou que eras namorada do P. Mas depois achou naaaaaa, é demasiado inteligente para aquilo...
- O teu amigo DE CERTEZA que estava com os copos.»

Logo agora que eu estava a testar os benefícios da minha fase barbie bibelot, vem isto e prova que ainda tenho um longo caminho para percorrer...Nunca mais volto a falar da situação geo-política do Médio Oriente (mind note: juntar à lista da política, das sociedades anónimas desportivas, da ENi e da Galp).

Retalhos da vida de...#1

Num bar cacofónico da noite portuense, dois amigos de sempre, falam por meias palavras e frases incompletas. Um queixa-se de que elas são todas burras, porque caem todas na mesma conversa. E depois corrige: menos tu. A outra queixa-se: sou tão burra como as outras. O outro, entre um gole de whisky com água do castelo e uma pedra de gelo atira:

« - O que é que queres que te diga?! Tens o ar do tipo de mulher que não precisa de um homem nem para mudar um pneu!»

Mentira. E nem sei mudar pneus.

The Gift - Best Portuguese Act

Tens razão, Sónia. E não é falsa modéstia: os The Gift há muito que mereciam uma coisa destas. Mesmo que uma coisa destas tenha virado emissão regional quando foram receber o vosso prémio. Mesmo que uma coisa destas nem sempre valorize o fazer música em detrimento do publicitar a música que se faz.

Seja como for, parabéns. Que vos abra as portas que vocês merecem.

by fiona bacana

ps: Delirei com madonna. Um nível só.

Thursday, November 03, 2005

Frase do dia

«O que vivi foi uma oportunidade de estar errada.»

Fernanda Young in Aritmética

Wednesday, November 02, 2005

Neoplasia existencial

Senti necessidade de projectar, derramar, inundar-me sem a tentação da protecção. Para tal, preciso de um restart na minha blogger existence. Sem concessões, sem preocupações de ser apanhada no acto pela minha vida extra-existencial.

Mantenho, no entanto, o nome. Por razões afectivas, claro, mas sobretudo porque fiona bacana é o nome da minha personagem reencarnada numa nova vivência, com descoberta de novas regras, novas formas de vida. Sinónimo de reinvenção, de recomeço. Que é a palavra que mais ecoa na minha cabeça no último ano e meio.

Poderei agora, então, levar a minha hemorragia ao extremo, sem preocupações. Este blog não tem um objectivo, uma temática, é propositadamente anárquico, incoerente, inconsequente. Só para avisar...