«It may be over but it won't stop there,
You touched my heart you touched my soul.
You changed my life and all my goals.
And love is blind and that I knew when my heart was blinded by you.
I've seen you cry, I've seen you smile.
I've watched you sleeping for a while.
I know your fears and you know mine.
We've had our doubts but now we're fine,I'm so, I'm so, I'm so hollow. »James Blunt "Good-bye my lover"
Descobri que trago no carro algo de que, conscientemente, nunca me apercebi que tinha, apesar de estar ali mesmo à minha frente, um pouco abaixo da linha do cd. Até que ontem alguém perguntou.
Qual colar?, perguntei desconcentradamente, pergunta como resposta a uma pergunta,
as usual.
Ah, esse...Não, não era meu. Mas andava no meu carro há mais de um ano, todos os dias, 365 deles pelo menos.
Há pessoas que nos ficam. Mais ainda, ficam-nos para sempre. Quando saem de cena, por muito que tenha sido planeado, compreendido, acordado e rasgado por 10 vezes e acordado novamente, confrontado, decidido…é só vazio que fica. É difícil ver a nossa extensão para além delas, porque nunca pensamos em nós sem as ter.
Mas a vida segue. E elas, teimosamente, ficam. Porque, inicialmente, não conseguimos lidar com a ideia de que já lá não estão - ou da forma como desejaríamos que elas lá estivessem - e boicotamos o processo de saída. Depois, de tanto fazerem parte de nós, ficam. E quanto mais dizemos adeus, mais elas ficam em nós.
Depois do episódio do colar, percebi que, mesmo que nunca esqueça (porque isso já aceitei… nem quereria de outra forma), vais ficar-me para sempre. Mesmo que lá não estejas. Até porque um vício (sempre e sempre e sempre isto…) controla-se, diminui-se o seu impacto; mas, sabe-se, está escrito: nunca, mas nunca mais, seremos os mesmos.
E a ti devo-te nunca mais ter sido a mesma. Nunca mais vi um verde, um cinza, um branco da mesma forma. Nunca mais atravessei a passadeira ou senti um traste de guitarra do mesmo modo. Aprendi a não ver um quadro de frente, já que há realidades que só podem ser vistas de forma enviesada. E tu és uma dessas.
Se vale a pena? Não sei. Só sei que enfiei a dor num saco de calma pacífica e resta-me ter o fair play para compreender. Para aceitar. Para isso, é preciso tempo. E embora não esteja disposta a desperdiçá-lo em tentativas imberbes, o medo de morrer sozinha começa a falar mais alto. Começa a incomodar-me sentir que estou, todos os dias, numa luta titânica para tentar disfarçar este sentimento de que se morresse hoje, não deixaria nada nem de mim nem de meu ao mundo.
Mas há algo que não passa, nem sei quando ou se passará: cada vez que te digo adeus, morro mais um bocadinho. E quanto mais digo adeus, mais ficas em mim. Pena é não podermos, como dizes entre uma piada e outra,
começar a viver um amor pelo seu futuro.